quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

a. arquivar

a potência, no final das contas, esvaziou até se tornar nula. foram vinte minutos de conversa. um porteiro confuso e uma despedida enfadonha e desnecessária. não era dele o problema, mas, de alguma forma, a presença corporificada de um cansaço. o fim de algo que mal tinha começado. agora, como o sempre e tudo mais, empurrar uma pequena história para debaixo do tapete. e seguir em frente.

domingo, 22 de dezembro de 2013

2013

2013 foi o ano que voltei para São Paulo, temporário e definitivamente. Foi a cidade que eu elegi como provisória diante a vôos mais altos, mas ao mesmo tempo, cidade do coração a quem devo minhas origens. No começo, algumas viagem pelo interior. São Sebastião da Grama, Ribeirão Preto. No meio, mais para o final, vieram Florianópolis, Porto Alegre, Pelotas, Montevideo, Colônia do Sacramento, Buenos Aires e encontros incríveis em meio a um coração escancarado por experiências.

das vivências existiram desde o choque da decepção e o retorno àquele lugar escuro (na hora da zona morta, carinhosamente apelidada), até a busca por uma salvação constante. Muita ansiedade diante isso. Mudança para uma casa de ecos inspiradora e deprimente. o tkd como terapia e o forma encontrada para fortalecimento do corpo e do espírito.

um amor de porto em São Paulo. outro, estrangeiro. o entendimento que é sempre bom estar fora do lugar que habitamos. (assim me torno uma pessoa melhor, acho). ah, e claro, um amor em potencial ainda embrião.

e enfim, terminar (ou começar) em um lar temporariamente definitivo. fazer daqui, meio ao caos da urgência da sobrevivência uma casa para hospedar sonhos e desilusões. é difícil prever o futuro. dá um frio na barriga danado porque ano que vem será o ano da defesa e desconheço para onde os ventos me levarão. mas, a sensação de que as coisas começaram, de fato, agora, continua. como a tulipa que apareceu no sonho. avermelhando-se aos poucos junto a pequenas certezas. e o entendimento que tudo o mais que virá é construído aos poucos pelo dia-a-dia.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

o exercício do diálogo

Portaria internacional

- Oi!

- Oi.

- Você é da onde?

- Por quê?

- Esses olhos, é italiana?

- Não.

- Japonesa?

- Não.

- São tão familiares. Você é da vizinhança?

- Não.

- Tem certeza?

- Aham.

- Já te vi. Você não vem sempre aqui?

- Não sou daqui.

- Sabia! Pelo andar, brasileira, não é?

- Aham.

- Isso foi um sim ou um não?

- Dali de perto.

- Ah, o Rio de Janeiro. Ele continua lindo?

- Não sei.

- Olha, eu não queria te dizer. Mas você tem olhos lindos.

- Obrigada, puxei do meu pai.

- Se são tão lindos quanto os seus, parabéns a ele. Ele deve ter um porte.

- Não tem.

- Se você se sentir a vontade, pode me falar sobre isso…

- A fila andou. Vai entrar?

- Vou, vim visitar meu irmão, roubo.

- Eu, meu pai.

- Seu pai?

- É, homicídio, 30 anos.

- Matou sua mãe?

- Não, meu namorado. Ele está vindo, quer conhecê-lo? Ele vai adorar seus olhos.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

o exercício da tese

Uma consideração sobre a perpetuação da arte, ou porque Van Gogh ainda prejudica certos entendimentos.

Van Gogh foi o escolhido para ser o protótipo do artista moderno. Nele, existe a ideia do incompreendido, sofrendo pela ignorância de tudo e de todos, despejando toda a imensa subjetividade do ser em pinturas para além do seu tempo. Reverbera assim na contemporaneidade, ainda, um tipo único de sujeito baseado nesse pensamento: o artista-romântico, ou na expressão de Artaud, um "suicidado pela sociedade", vanguarda do seu tempo.

A orelha amputada, símbolo máximo na utilização feroz do mercado, legitima a loucura e um tipo de pensamento para qualquer aspirante a artista. É interessante perpetuar a tese de que são os outros que não compreendem o que existe no "mais-alto-fundo-âmago-do-seu-ser". Nisso, todo um mercado de críticos, curadores, universidades e professores estão lá para apoiar e dizer que todos tem um alto coeficiente de criatividade e inovação. A criação não seria um simples jorro na imensa linha do tempo, no sentido de extrapolar o sentido de hereditariedade dos genes por meio dos filhos.

Talvez seja essa a razão do porquê os cursos livres de artes proliferem mais que baratas no verão. O mercado lucra, e muito, com toda a ignorância e síndrome de um romantismo tardio. Pois se houvesse um curso em que os professores, ao verem o desenho do aluno dissessem em alto e bom tom: Não passarão!, seriam muitos os que repensariam um curso de direito ou administração ora antes nunca navegados.

Não que a falta de talento seja inibidor para aquele que busque maior expressividade. Mas a herança herdada, (não racionalmente por Van Gogh, mas a todos outros que se beneficiam) ecoam para uma série de jovens artistas, esperando na fila alguém que vislumbre esse raio de sol.

Racionalidade e expressão caminham juntos na mesma muleta de alguém não apenas "gauche", mas também "droit". De um lado, a possibilidade de entender que a produção artística anda junto com um senso de autonomia. No outro pé, o trabalho duro, muito duro. O que rege o que irá ficar ou não para a posteridade independe do desejo do próprio artista. Não são todos que caem na fina malha do tempo, mas às vezes fatores de estar no lugar certo, na hora certa, também ajudam na grande corrida ao ouro.

Nem todos tem um irmão como Theo para assegurar um conforto e sobrevivência necessário para o grande tempo. Nem todos poderão ser o joguete de um dispositivo mercadológico. Mas, na melhor das hipóteses, sempre haverá enriquecimento de alguma parte que lucra com anseios e sonhos. E se for artístico, melhor ainda.

o exercício da autobiografia

dos nomes:
Tê, Mindinha, Caxinha, Nariz; mas prefere mesmo quando escrevem o nome com acento.
gosta de cogumelos, tem alergia à camarão.
como tem problemas em escrever em 1o. pessoa, usa a 3o.
do ménage, prefere o duplo. é divorciada.

[um dia, teve um breve colapso e quis jogar-se da ponte. já era noite e quase não lembra como tudo aconteceu]

o pai é comunista, com família sírio-libanesa. a mãe, pedagoga de origem japonesa e silêncios mortais junto ao tlec-tlec do relógio. Já me chamaram de sushi com quibe.

tem Francisco Alvim como inspiração. mas o humor oscila entre o butô e o tropicalismo.

Girassol.
Evandro Carlos Jardim.
A meia noite no quarto de cima, o Cruzeiro do Sul.
diferente ou desnecessário.
CTH, 28 anos, escorpião com ascendente em peixes.

[nisso tudo, uma ou várias mentiras]

sábado, 7 de dezembro de 2013

a elegia como princípio estrutural

(...) A poesia elegíaca se distingue não por uma erupção lírica de desgosto e melancolia, e sim por um pungente, embora distintamente atenuado sentimento de perda e tristeza. O traço contemplativo deste gênero cria uma sensação de distância que torna mais polida a experiência lírica imediata. A poesia elegíaca é, portanto, caracterizada por dois modos de expressão distintos: trata-se de um gênero pessoal e autocentrado que, simultaneamente, minora os sentimentos de perda e dor através do ato da contemplação.
A tensão antitética que subjaz à poesia elegíaca advém da integração de diferentes momentos temporais num único espaço lírico. Quando o passado e o presente se encontram, como costuma acontecer na poesia elegíaca, o passado é retomado e situado no contexto do presente. A poesia elegíaca une o passado ao presente de modo a desnudar a ambos de suas funções específicas: "O passado é conjurado ao tempo presente de modo que forme uma antítese à nossa experiência momentânea. A descrição do momento presente perde seu caráter de experiência e torna-se algo mais universal"(WEISSENBERGER). Tal integração de instâncias temporais díspares - o passado e o presente - contribui para o efeito produzido pela elegia de aliviar a angústia provocada em nós pela morte e pela perda em geral. A elegia alcança este efeito mediante a justaposição de tristeza e alegria. Elegias contrastam o fim da vida com as memória de alegrias anteriores, e - diante da dor iminente - trazem à mente momentos mais idílicos.

[Os retratos cinematográficos de Sokurov. Eva Binder em Alexander Sokurov: poeta visual. p. 56-67]

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

1 mês

primeira vez que vi o pôr-do-sol na minha nova casa.
um grande caminho entre os ladrilhos chineses e as três torres, gigantes e irmãs.
nisso tudo, um cheiro de hortelã e um acordar alguns minutos antes.

trocar o vocabulário para o cansaço das palavras.

sábado, 30 de novembro de 2013

sobre o trabalho poético: o escuro

o escuro e as pequenas luminosidades que incidem sobre e pelos objetos.

a densidade e o incrível silêncio das coisas mortas. (volto à camuflagem de Nuno).
imobilidade ou quase.
o não revelado.

o escuro também é imagem.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Georges Perec - Especies de Espacios

Vivir en una habitación ¿qué es? Vivir en un sitio ¿es apropiárselo? ¿Qué es apropiarse de un sitio? ¿A partir de qué momento un sitio es verdaderamente de uno? ¿Cuando se han puesto a remojo los tres pares de calcetines en un barreño de plástico rosa? ¿Cuando se han recalentado unos espaguetis en un camping-gas? ¿Cuando se han utilizado todas las perchas descabaladas del guardarropa? ¿Cuando se ha clavado en la pared una vieja postal que representa el sueño de Santa Ursula de Carpaccio? ¿Cuando se han experimentado allí las ansias de la espera, o las exaltaciones de la pasión, o los tormentos del dolor de muelas? ¿Cuando se han vestido las ventanas con cortinas al gusto y colocado el papel pintado y acuchillado el parquet?

[retomando de volta o rumo]

domingo, 24 de novembro de 2013

A.

deixar de lado. esquecer.
também toda desilusão e expectativa.

não que exista um renascimento, mas apenas um pequeno avanço nas ações que não podem ser esquecidas. essas sim, prioritárias.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Colonia del Sacramento

posso dizer que uma parte de mim ficou em C. do S?
acordo com sensações de uma outra vida com E.

o que havia naquelas fachadas que me perseguiam desde Pelotas? era como se o sol que irradiasse por uma fachada, sem perspectiva, sem miolo, sem profundidade. somente o muro como uma separação para um grande vazio, morto.
o que houve na esquina daquelas duas ruas que me fez paralisar dessa maneira?

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Montevideo

viajar por um lugar desconhecido é trazer os diversos tempos da própria vivencia. em cada esquina, a lembrança de uma esquina em Barcelona, um cruzamento que remente a Belo Horizonte, a mesma palavra 'hamburguesa' e já vem a tona o mal estar de um sanduíche mal digerido na Bolívia. lugares que não estão imunes, nunca estão sós. mesclam-se na camada sedimentada e é revolvida constantemente pelo tempo.

é certo que, alguns lapsos nos assaltam em momentos inoportunos e você sente a materialização de um sentimento inexplicável. nunca vou esquecer do musico chines que tocava um instrumento de cordas no metro da Madeleine. um dia ele começou a cantar um tipo de canto que ainda hoje acredito que estava próximo de algo sobrenatural.

o entrecruzamento de espaços e tempos aliados com o estado de espirito atual também entorpece. no momento, ha somente um grande sentido de desorientação.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

cartas sem remente

em uma outra cidade tentei enviar uma carta sem o endereco do remetente. a funcionaria dos Correios disse que nao poderia envia-la apenas com o destinatario. nao havia logica no que ela dizia. isso porque qualquer pessoa poderia enviar uma carta nas caixas amarelas, localizadas nas ruas. mesmo assim, escrevi o endereco e sai insatisfeita do posto. hoje, na rodoviaria, antes de embarcar fui pesar duas das cartas que escrevi ontem a noite. eu ja tinha o selo. so queria confirmar que ela chegaria ao destino, mesmo com o remetente inexistente. antes, perguntei para o funcionario com cara de leoncio se poderia mandar sem o remetente. ele disse: tem gente que diz que sim, tem gente que diz que nao pode, eu prefiro mandar com. depois da pesagem das cartas, ao dizer que ia mandar a carta, ele me disse que nao poderia mandar. porque se a carta voltasse, ela seria incinerada. (ah, a humanidade, Bartleby!). sai de la com um aperto no peito. se mandar uma carta para mim mesma esta exposto o maximo de comprometimento e sinceridade, de repente, eh lancar tudo pelo nao saber do poder de um funcionario. ele vai abri-la? ela ira envia-la? ele ira jogar-la no lixo? lancar assim uma proposicao do nada da um medo e exige coragem. ha coisas que nunca voltam e podem ficar perdidas no espaco-tempo. entao qual a validade da materialidade das coisas?

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

John Cage - De segunda a um ano

"Onde houver uma tradição de organização (arte) introduza desordem."

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

setembro

- soirées avec les voisins
- visita de L.
- samba no banespa+bexiga 70
- don giovanni
- apresentação fflch
- passport+em trânsito de despedida
- gripe e bronquite
- mudanças físicas no corpo

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

aime la vie, tu seras invencible

segundas e quartas-feiras costumo sair depois dos treinos me sentindo invencível (com certo ar até de prepotência diante o mundo). pedalo por caminhos inéditos. ando observando as casas do bairro nobre, com um certo ar de dandy. não tenho medo das ruas vazias. dos que cruzam o caminho, sinto apenas uma certa prontidão. observo as janelas fechadas, penso no voyerismo e o medo que se sente em ver e não ser visto.
lembrei do 'le dandy' do Barthes:
"L'usage forcené du paradoxe risque d'impliquer (ou tout simplement: implique) une position individualiste, et so l'on peut dire, une sorte de dandysme.
Cependant, quoique solitaire, le dandy n'est pas seul: S., étudiant lui-même, me dit - avec regret - que les étudiants sont individualistes; dans une situation historique donnée - de pessimisme et de rejet -, c'est toute la classe intellectuelle qui, si elle ne milite pas, est virtuellement dandy. (Est dandy celui qui n'a d'autre philosophie que viagère: le temps est le temps de ma vie)"

terça-feira, 24 de setembro de 2013

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

quinta-feira, meio-dia

(acordei com o sentimento das saudades) - você era a parte só da sua história.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

das noites, das trocas

um tipo estranho de pertencimento. pela negação.
(pausa)
do dia anterior. noite na ucrânia, feliz pelo desenvolvimento na linguagem do vídeo de L. feliz também por ela me dizer o que suspeitava: a necessidade de procurar um outro suporte, além da imagem achatada e bonitamente digital. suspeita despertada com Kentridge. o desenho que se faz animação. 7 meses que são 7 minutos.
(pausa)
dia seguinte. a negação do lugar. dos braços que preferem estar expostos ao frio até os cabelos lisos e aloirados. umbicalidade em pegar o carro após tanto álcool. imprudência em um tipo de pensamento uniformizado.
por mais que reclame, o meio do pertencimento é ainda o meu habitat.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

limbo

para aonde vai os projetos e sonhos não realizados?

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

El hacedor - Borges

"Um homem se propõe a tarefa de desenhar o mundo. Ao longo dos anos, povoa um espaço com imagens de províncias, de reinos, de montanhas, de baías, de naus, de ilhas, de peixes, de moradas, de instrumentos, de astros, de cavalos e de pessoas. Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a imagem de seu próprio rosto."

terça-feira, 6 de agosto de 2013

- o escuro e as pequenas luminosidades que incidem sobre e pelos objetos.
- a densidade e o incrível silêncio das coisas mortas.
- imobilidade ou quase.
- nenhuma epifania, repouso.

Há uma camada de poeira que recobre as coisas, protegendo-as de nós. Polvilho escuro da fuligem, fragmentos de sal e de alga, toneladas de matérias em grãos que vão cruzando o oceano transformam-se em fiapos transparentes depositados pouco a pouco para preservar o que ficou embaixo.

sábado, 3 de agosto de 2013

sonho #3

aquele pequeno pássaro de animação, se transformava em uma figura alongada. como um personagem do Miyazaki que estava disfarçado com bigodes. ele percebeu a movimentação inquieta das pessoas e se transformou no sr. Moustache em sua bicicleta. saiu andando, olhando vagamente para trás. já longe, mudou a forma para um ponto brilhante com extrema rapidez. mergulhou comigo no meio do mar e deixou um presente para eu pegar entre caixas no fundo do oceano. estava com ele totalmente imersa, dentro do mar, quando abri as caixas adormecidas. descobri que foram deixadas pela minha mãe para que seus filhos resgatassem (o legado de sensibilidade que conversamos?). estava muito feliz porque iria ajudar a salvar alguém, com o objeto retirado das caixas e agora em minhas mãos.
ao subir para a superfície, era como se eu tivesse em uma piscina, águas escuras em uma grande caixa, quarto. quando mais eu tentava sair, mais as águas se tornavam revoltosas e não deixavam que eu saísse (organismo vivo?). pequenas movimentações se transformavam em ondas gigantes, aquela sensação de medo em ver a crista da onda se formando. senti que não conseguiria sair. depois de um momento tão sublime com as caixas no oceano, porque águas escuras tão violentas?
*
consegui sair, não sei como. minha irmã fazia a unha com uma mulher que eu nunca vi e minha mãe acho que costurava alguma coisa. a Cris aparecia aqui na minha casa, falando para tomar cuidado com a cândida que poderia carcomer os pés. a atmosfera era de um quadro de De Chirico, um por do sol amarelo-avermelhado rubro, uma densidade forte no ar.

domingo, 28 de julho de 2013

I would prefer not to

pensei talvez que minha experiência estivesse associada com a capa do livro. rústico, feito de papel carbono, sem nenhum atrativo visual diante todos aqueles outros, mais belamente costurados. mas, se por algum motivo alguém resolvesse abrir, talvez tivesse uma bela surpresa na leitura.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

as migalhas - vinte e dois de julho

"as migalhas de pão são acumuladas diariamente nas mesas, por toda a casa. estão também no chão. por que me incomodam? vestígio de presença, que alguém passou por lá e simplesmente absteu-se da ideia que outra pessoa estaria por lá, promulgando um forte ato de egoísmo? um desleixo que é tomado como provocação, como forma de símbolo de dominação que diz "está casa ainda me pertence".

da passagem dos dias até certa finalidade

a inevitabilidade do dia chegar.
independente da percepção: o tempo comprimido, extenso
a criação como gesto contínuo, esforço diário para pequenas concretizações.

*
essa semana irá fazer dois meses: um de entendimento, outro de superação.
tudo será realizado dentro do mundo das imensas possibilidades.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

C.

foram 4 casas em 7 meses:
a) perto do pico do jaraguá, as flores se tornaram dançantes águas-vivas.
b) em campinas, só o sofá e o vinho branco. indícios do calor e o vazio do apartamento.
c) depois da liberdade, tatuapé. não vale a pena lembrar.
d) clandestinidade próximo ao parque. pirilampos sussurraram durante a madrugada.

difícil esquecer C.

domingo, 7 de julho de 2013

ele canta

Descansa sempre no final da tarde, e é então que canta. Ficamos circundando sem instrumentos para medir propriamente nada, a não ser o espasmos etc. É então que ele canta. Todos cantamos. Nos pomos a cantar a mesma música. Primeiro uns assobiam, depois todos cantamos bem alto. Ele canta através de nós. Nós cantamos por causa dele. De repente se cala e nunca sabemos se vai voltar a cantar. [Nuno Ramos]

sábado, 29 de junho de 2013

hallellujah

quando acordei estava no meio do mar. minha cama boiava entre as ondas e a alta maresia irradiava dos armários. era tanta umidade que duvidei se estava perdida na praia, entre o sono e a vigília.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

bravo!

andante con moto
maravilhoso.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

vinte e cinco de junho.

eu deveria colocar um benjamin.
a oleosidade da pele que se dissipa com a água quente
o primeiro líquido ainda é morno.
o som da chuva. o cheiro de cigarro e sabão em pó na lavanderia.
pensei em C.

lindíssimo.

[ouve-se uma voz que diz: os leões preferem o silêncio às refeições]

é meu preferido diante todos daqui

sonho e pânico

apenas depois de algumas semanas.
*
no sonho, eu retornei ao lugar que não me lembro consciente. era escuro, fechado. quase senti o cheiro de infiltração na parede. estava agachada, me escondendo. abandono e desolamento.
antes que a imaginação começasse a traçar os caminhos. o retorno a um lugar somente acessado nesses delírios. lembrei das cartas no armário. lembrei do filme irreversível. um pesadelo, mas impregnado de sensações, porque você esteve lá. em algum momento as sensações retornam. tentar rememorar esse evento perdido, é quase um atestado para permitir o insano.
*
lembrar de acordar as inúmeras noites durante a madrugada. a última reunião foi realmente um trauma. por quê? e como isso atingiu essas proporções?
*
por que o esquecimento é o maior de todos os males?

sexta-feira, 21 de junho de 2013

goteiras (ou não)

elas foram ficando mais violentas.
reunião em torno da mesma matéria, agora gritavam para ser ouvidas. uma a uma. a queda que não se configurava como fim, mas continuidade. e intermitência.
fim de um sono tranquilo, da pequena morte dos dias.
um ruído para configurar a cadência do tempo.

domingo, 16 de junho de 2013

sapatos

comecei a pisar diferente.
espero que o calcanhar dos sapatos não se desgastem com tanta facilidade.
para que tanta força no caminhar?

sexta-feira, 14 de junho de 2013

batchan

sonhei que abria a porta do meu quarto. parada do outro lado estava a minha avó, sorrindo. me deu um abraço, como era o abraço que eu me lembro. afetuosamente quente e protetor.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

quinta-feira

o parque é uma das alegrias das minhas tardes. hoje, andando de bicicleta, uma luz enevoada percorria todo o parque. beirando o lago, as árvores ribeirinhas iluminadas por um sol de fim de tarde.

terça-feira, 11 de junho de 2013

lost, lost, lost

não tenho a mínima ideia que caminho seguir. parece que a chuva, bloqueou as duas únicas vias de acesso.

sábado, 1 de junho de 2013

clandestino

o seu rosto era salgado como o mar.
tinha no cheiro o exercício da escrita. perpasseava como uma cobra coral, pelos corpos das fêmeas, sempre descritos por alguns gemidos. não tinha como sair a bordo. ameaçaram-no jogar em alto mar. disseram que era clandestino. em vez do seu corpo, jogaram-o de um outro. desesperou-se e viu ir ao longe Elenik. o barco já não era mais sua esperança.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

salvation

When the little one came
A hole was blown open
A partial surrendering in the midst of knowing
And for an instance the constant heart shed its own tears
Wave upon wave carried me over
Beyond the peripheries of hope and fear
Deadening the voice of relentless biography
I stood at the center and danced at the extremities
Mapping the city as subtle as silence
Then on, outwards, into the darkness

When the crazy one came
She placed her finger on my forehead
And pushed on through

I woke up, face on fire
Spitting out diamonds
Thoroughly lost to logic
Craving her madness

quinta-feira, 23 de maio de 2013

reflexões da janela

olhar para a janela e descobrir a garoa que cai, tão silenciosa.
um instante e ela já sumiu.junto, o silêncio.
*
tenho três árvores a frente. a de galhos secos e tentáculos é a que eu mais gosto. parecem pequenas mãozinhas que vão em direção ao céu. a cor parece pedra, com detalhes de ferrugem verde. é a árvore que os passarinhos param para descansar.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Especies de Espacios

3
Escribo: vivo en mi hoja de papel, la cerco, la recorro.
Suscito espacios en blanco, espacios (saltos en el sentido: discontinuidades, pasajes, transiciones).

5
Así comienza el espacio, solamente con palabras, con signos trazados sobre la página blanca. Describir el espacio: nombrarlo, trazarlo, como los dibujantes de portulanos que saturaban las costas con nombres de puertos, nombres de cabos, nombres de caletas, hasta que la tierra sólo se separaba del mar por una cinta de texto continua. El alef, ese lugar borgesiano en que el mundo entero es simultáneamente visible, acaso no es un alfabeto?

[Georges Perec]

morte das casas

uma goteira em um teto seco de outono.
lembrei que casas também choram.
*
[lembrei]
Morte das casas de Ouro Preto, de Carlos Drummond de Andrade:
“Sobre o tempo, sobre a taipa, a chuva escorre. As paredes que viram morrer os homens, que viram fugir o ouro, que viram finar-se o reino, que viram, reviram, viram, já não vêem. Também morrem.”

domingo, 19 de maio de 2013

elipse

"No mar, tanta tormenta e tanto dano" Camões. * ele disse que meu problema é a elipse e não a redundância. ainda acho a supressão mais bonita, embora a academia não me permita, ainda.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

terça-feira, 14 de maio de 2013

fenomenologia

"o que tento lhe traduzir é mais misterioso, se enreda nas raízes mesmas do ser, na fonte impalpável das sensações" [J. Gasquet, Cézanne]

terça-feira, 7 de maio de 2013

mudança

tem muitos ecos aqui.
de bailes e festividades que passaram há muitas décadas.
os carregadores trazendo o novo vitral, para perto das escadarias com as passadeiras em vermelho.
também a sala de balé e a vitrola repetidamente staccato.
é uma mansão. mas também uma casa em ruínas.
a casa das coisas vividas.
os ralos cansaram de filtrar a água. qualquer movimento, transbordam pelos tons dourados do banheiro.
*
estou no quarto principal.
tem quatro ganchos no teto que não entendo para que serviram um dia.
hoje, enquanto vieram os "novos carregadores de vitrais", coloquei azulejos em volta da janela.
fico na torre a maior parte do tempo. tenho medo de olhar para o jardim e ver o quanto foi bonito o passado.
é a noite, com o silêncio e a escuridão, que a face mais sinistra do lugar aparece.

sábado, 27 de abril de 2013

Hotel Bombay: Highway or Hemingway

Being on the boat, being in the bungalow,
Being on the sea, being near the sea,
Land and confusion is over there,
Behind the hill, behind the sand.
Stockholm, San Sebastian, San Pedro, Sevilla:
S-fact...
History is behind the Sea,
Horses and Heroes on the land,
H-fact...
Hotels, Cities, Negotiations...
Life: thousand and one lives;
non-fact.
Sailor in the Hotel,
Sailor on the Land,
A drop of Bombay Sapphire...
Best bargain:
The trap of Hospitality,
Welcome
to the Home.
No condition, no compromise.
Check the situation, get it.
I am talking to you,
in Bar Sevastopol
Instant Hostility
Star Rain;
More tone, more tonic...
no way, Norway.
Passangers on the threshold...
Why me?
What´s your story?
Back to bungalow, back to keyboards...
What´s the deal?
Hotel Holiday
A broken accord,
An enigmatic day-dreaming,
On the beach: Noise and Crime...
No fact, no alibi.
Waves...
Chasing Bach,
Tirana calling.
Life is Life,
An other ordinary summer,
A tree in the Pension
Monk Garden,
Like that.
Hotel Holiday.


Hüseyin B. Alptekin

terça-feira, 23 de abril de 2013

des mondes tombent dans un espace de lumière...

Texte de Jean Epstein, 1928. Ici: http://www.derives.tv/Une-vision-plastique-du-monde-sur

* Les Réceptacles. Gosto do texto, mas ainda estou em dúvida quanto ao vídeo.

Andarilho

"é, e justamente cada espectador cria uma síntese diferente daquela imagem que eu pensei. Para mim ela foi aquilo, o desejo de fazer aquela imagem era uma tradução o que era para mim, talvez o pensamento de um andarilho que tivesse andando o tempo inteiro naquele asfalto quente, aquilo é uma tentativa de tradução em imagens o que aqueles caras estavam pensando. A forma do pensamento, a forma meio aluviada, meio desfocada, meio evanescente, meio exalatória do asfalto quente. E o caminhão pra mim, eu imaginava justamente os caminhões, porque a quantidade de caminhão que passava o tempo inteiro andando na beira da estrada é muito louco. Você fica pouco tempo ali e já começa, e eles ali tem um vácuo, o caminhão traz um corpo que traz um vácuo que te joga pro lado. é uma presença muito louca, esses monstros passando o tempo inteiro. Então eu fico imaginando quem está ali há horas, andando, comece a perceber ali como outras coisas que caminhões. Monstros, figuras que ele está se relacionando naquela caminhada que, por que não virarem outra coisa que não caminhão? . Assim, e essa imagem do asfalto quente que deforma o objeto para mim era muito simbólico disso, o que seriam esses objetos para aquele homem que caminha. Como traduzir aquilo em imagem." [C.G]

segunda-feira, 22 de abril de 2013

entre sp-bh

"os personagens são apenas. não sabemos de onde vieram e/ou porquê estão nessa situação. eles apenas caminham, ou vêem o destino pelas cartas, transmitindo o possível futuro pelo celular. não há uma explicação, julgamento. passamos alguns minutos sentados, como espectadores, dividindo um pouco os pequenos golpes de solidões"

domingo, 14 de abril de 2013

post-it

[pode ser que um dia a gente se reencontre. e talvez você esqueça meu nome, diante a tantos os outros amores vividos]

sobre o cheiro e o rastro da chuva

,

"- somente hoje, vou me apaixonar por você."
essa foi a fala do último encontro. fazia quatro meses que combinavam de se encontrarem sempre na mesma esquina, somente nos dias em que chovia na cidade S., próxima ao porto de C. começava o temporal e um certo sorriso hospedava-se no rosto dos dois. todos os encontros eram sempre em locais diferentes. apesar de serem diferentes, viam no outro, com uma espécie de fascinação, a alteridade e o desejo. mas aconteceu de ela dizer o seu nome, a mais ordinária das ações. e durante a noite, sussurrou quase como um segredo o quanto o amava. como se fosse possível controlar, o medo fez-se presente e dominou todo o quarteirão de um manto crescente de intimidade. nunca mais choveu na cidade de S., próxima ao porto de C. e a aridez e a solidão começaram a crescer novamente entre os cidadãos. aos poucos, voltaram as rachaduras e do solo, apenas a lembrança e o cheiro da chuva.

entre espelhos

em um dos filmes do Kar-Wai, a personagem feminina diz que ao iniciar a procura de si, quando vê refletida sua imagem no rosto das pessoas em que encontra, sempre gosta do que vê. peixinho exibido que foge para a caverna quando batem no vidro. uma pessoa boa, C. esconde talvez entre espelhos o tesouro e o medo. sei que, apesar de tudo, não foi C. que fragilizou-se. de medo, de um certo pavor. do desejo de ser antropólogo. as vezes tenho a impressão que corre o risco de perder-se na próprias buscas hedonistas. mas o pior mesmo é entender que essa outra vida é possível, em todo o seu devaneio.

sábado, 6 de abril de 2013

adormecida na caverna da memória

retornar a essa caverna, quase esquecida. o caminho da memória surgiu quando fui apresentar o passado a alguém novo, mesmo que temporariamente, na minha vida. por ocasião do rio de janeiro, eles surgiram. ouvir ryuichi sakamoto é sempre retornar a esse lugar, em que o cobertor aquece ao mesmo tempo que amortece com um leve amargor. é como o chá verde, depois de um tempo, amarra a boca. mas essa ilha é minha lembrança. em tempos como esses, é bom cultivar o bonito que foi o passado.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

farol

ele deu ali uns acenos para a solidão. lembrou como é triste ser sozinho. queria dividir a última gota do café junto a alguém.

abril

velocidade. o trem passa e os momentos de longa ociosidade não suportam mais. será permitido agora entre-ônibus, entre-passagens, entre a espera de uma sessão. coragem. para olhar de frente como pessoa. sensibilidade para ir além. abril começou com cheiro de novo.

sábado, 23 de março de 2013

o homem que era gentil apenas com um pássaro.

acontecia que, já velho, apegou-se apenas ao seu periquito. era o único que repetia as suas palavras, com a mesma entonação e intensidade. aos finais de semana, depois da embriaguez, era apenas com ele que a voz amansava.

A casa das coisas que não se dizem

Hipermetropia

Não, não foi o tempo.
é que eu enxergo melhor na distância.

Por tudo o que não foi

Ela chegou vestida de prata e com o cabelo preso,
ocupando toda a festa no meu pensamento.
Os senhores vão me ouvindo:
- Bonito é um dia de sol, é a gente gostar;
aquilo era Helena. Ali, eu vendia meus irmãos.
Eu não disse nada.
Um olhar insuficiente e eu não disse nada.

Um poema sobre as infinitas formas de amar

- Deita.

[Michel Klejnberg]

terça-feira, 19 de março de 2013

Guimarães Rosa

Nenum,nehuma

segunda-feira, 18 de março de 2013

sobre a pesquisa

como falar de um artista academicamente? sem colocá-lo em uma caixinha de definições ou mesmo sem correr o perigo de ser "tiete", já que a escolha dele para estudar exaustivamente recai em um interesse todo especial. pois foi um ano recolhendo material, aqui e ali. por mais organizado que seja um arquivo, sempre tem alguma coisa que se perde na matéria, ou, por questão de tempo, na memória. e quando tudo mais parece ruir, a grande questão: hipótese. é o sentido, o caminho para onde vai o trabalho, a abordagem da escrita. tento definí-lo mas me parece tão frágil. basicamente é tentar entender seu processo ou as formas que ele construiu para chegar até certos conceitos?? acho que não. parece que também quando falo em acaso, não é a obra, mas a construção da obra. entender a primeira fase fotográfica "barroca", para a saturação e depois para a maturidade. ao mesmo tempo, formas e linguagens se sobrepõem, onde é necessário fragmentar para entender. e tantas questões estruturais que nem sei por onde começar.

quarta-feira, 13 de março de 2013

o Louvre e a passagem

ir em algumas palestras em francês sempre me faz retomar alguns caminhos perdidos na memória. na aula inaugural do Dubois, ao dizer sobre o que a fila na entrada da pirâmide do Louvre indica, ansiedade, irritação, desejo de entrar no mundo da arte, fiquei lembrando das tantas tardes e noites que passava lá. eu entrava quando muita gente já estava indo embora. depois do detector de metais, os grandes corredores de consumo, o starbucks e os orientais com os celulares de última geração, flanando, só olhando pelas vitrines (instigar pelo visual, necessidade de tocar). mas era entrar, pegar meu passe-livre de estudante, escolher a ala e ir ao encontro de algumas preciosidades. Kosuth no porão do Louvre, Kiefer em vãos específicos, passando assim, despercebidos, como móveis velhos em um grande show room. era como só eu visse algo em um grande manto de invisibilidade. claro que isso é besteira, mas era inevitável o sentimento de tudo aquilo me pertencia, do que não era óbvio. pensei que então havia pego uma passagem para um mundo muito próprio, em que as caminhadas constantes, os deslumbres de encontrar estátuas gigantes do oriente ou verdadeiros templos egípcios remontados em toda a sua segurança. (e Dubois disse que as coisas que estão no museu não foram destinadas para estar lá. talvez sim, talvez não. da história os saques e o poder. do contemporâneo, lugares específicos). toda noite saía extremamente feliz, de ter entrado em um mundo que fazia esquecer do frio, da neve e da solidão.

terça-feira, 5 de março de 2013

insônia

na maior parte das vezes, não tenho ideia do que estou fazendo.

segunda-feira, 4 de março de 2013

ele era um anão

gosto principalmente quando olho o passado e não mais vejo a mesma pessoa. simplesmente assim, sem mas com todo sentido. hoje eu olhei aquela lesma, fiquei com vontade de jogar sal. colocar em um lenço e enterrar. mas inevitavelmente o tempo tem feito isso. mas é claro, não deixa de existir a vontade de uma pequena (e desnecessária) vingança.

sexta-feira, 1 de março de 2013

noturno

seriam os noturnos carregados de melancolia? imobilidade da noite, silêncio que resvala em torno das sombra do taquaral. o espelho que reflete parte do rosto. luzes artificiais. nuvem que rasga a noite, através da lua em seu estado crescente. o incrível silêncios das coisas vivas, mas em repouso. -- março inicia com Debussy

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Marina

aconteceu essa semana de ver o documentário Women Art Revolution, dirigido por Lynn Hershman-Leeson. é certo que, pessoalmente, acredito que há alguns exageros dentro da história da arte feminista, mas compreensível dentro do contexto moderno-manifesto. mas não deixa de existir certa alegria de ver alguns anseios e assuntos abordados de forma expressiva.
e hoje assisti the artist is present, documentário produzido pela HBO a partir da exposição do MoMA. eu admiro Marina Abramovic, desde o primeiro contato que tive com sua obra na universidade. por isso não deixa de ser um pouco assustador o que a performance homônima torna quando o museu abre e as pessoas saem correndo, desesperadas. mas sempre acho que o seu manifesto inspirador.

Manifesto sobre a vida do artista. Marina Abramovic

1. a conduta de vida do artista:
- o artista nunca deve mentir a si próprio ou aos outros
- o artista não deve roubar idéias de outros artistas
- os artistas não devem comprometer seu próprio nome ou comprometer-se com o mercado de arte
- o artista não deve matar outros seres humanos
- os artistas não devem se transformar em ídolos
- os artistas não devem se transformar em ídolos
- os artistas não devem se transformar em ídolos

2. a relação entre o artista e sua vida amorosa:
- o artista deve evitar se apaixonar por outro artista
- o artista deve evitar se apaixonar por outro artista
- o artista deve evitar se apaixonar por outro artista

3. a relação entre o artista e o erotismo:
- o artista deve ter uma visão erótica do mundo
- o artista deve ter erotismo
- o artista deve ter erotismo
- o artista deve ter erotismo

4. a relação entre o artista e o sofrimento:
- o artista deve sofrer
- o sofrimento cria as melhores obras
- o sofrimento traz transformação
- o sofrimento leva o artista a transcender seu espírito
- o sofrimento leva o artista a transcender seu espírito
- o sofrimento leva o artista a transcender seu espírito

5. a relação entre o artista e a depressão:
- o artista nunca deve estar deprimido
- a depressão é uma doença e deve ser curada
- a depressão não é produtiva para os artistas
- a depressão não é produtiva para os artistas
- a depressão não é produtiva para os artistas

6. a relação entre o artista e o suicídio:
- o suicídio é um crime contra a vida
- o artista não deve cometer suicídio
- o artista não deve cometer suicídio
- o artista não deve cometer suicídio

7. a relação entre o artista e a inspiração:
- os artistas devem procurar a inspiração no seu âmago
- Quanto mais se aprofundarem em seu âmago, mais universais serão
- o artista é um universo
- o artista é um universo
- o artista é um universo

8. a relação entre o artista e o autocontrole:
- o artista não deve ter autocontrole em sua vida
- o artista deve ter autocontrole total com relação à sua obra
- o artista não deve ter autocontrole em sua vida
- o artista deve ter autocontrole total com relação à sua obra

9. a relação entre o artista e a transparência:
- o artista deve doar e receber ao mesmo tempo
- transparência significa receptividade
- transparência significa doar
- transparência significa receber
- transparência significa receptividade
- transparência significa doar
- transparência significa receber
- transparência significa receptividade
- transparência significa doar
- transparência significa receber

10. a relação entre o artista e os símbolos:
- o artista cria seus próprios símbolos
- os símbolos são a língua do artista
- e a língua tem que ser traduzida
- Às vezes, é difícil encontrar a chave
- Às vezes, é difícil encontrar a chave
- Às vezes, é difícil encontrar a chave

11. a relação entre o artista e o silêncio:
- o artista deve compreender o silêncio
- o artista deve criar um espaço para que o silêncio adentre sua obra
- o silêncio é como uma ilha no meio de um oceano turbulento
- o silêncio é como uma ilha no meio de um oceano turbulento
- o silêncio é como uma ilha no meio de um oceano turbulento

12. a relação entre o artista e a solidão:
- o artista deve reservar para si longos períodos de solidão
- a solidão é extremamente importante
- Longe de casa
- Longe do ateliê
- Longe da família
- Longe dos amigos
- o artista deve passar longos períodos de tempo perto de cachoeiras
- o artista deve passar longos períodos de tempo perto de vulcões em erupção
- o artista deve passar longos períodos de tempo olhando as corredeiras dos rios
- o artista deve passar longos períodos de tempo contemplando a linha do horizonte onde o oceano e o céu se encontram
- o artista deve passar longos períodos de tempo admirando as estrelas no céu da noite
13. a conduta do artista com relação ao trabalho:
- o artista deve evitar ir para seu ateliê todos os dias
- o artista não deve considerar seu horário de trabalho como o de funcionário de um banco
- o artista deve explorar a vida, e trabalhar apenas quando uma idéia se revela no sonho, ou durante o dia, como uma visão que irrompe como uma surpresa
- o artista não deve se repetir
- o artista não deve produzir em demasia
- o artista deve evitar poluir sua própria arte
- o artista deve evitar poluir sua própria arte
- o artista deve evitar poluir sua própria arte

14. as posses do artista:
- os monges budistas entendem que o ideal na vida é possuir nove objetos:
1 roupão para o verão
1 roupão para o inverno
1 par de sapatos
1 pequena tigela para pedir alimentos
1 tela de proteção contra insetos
1 livro de orações
1 guarda-chuva
1 colchonete para dormir
1 par de óculos se necessário
- o artista deve tomar sua própria decisão sobre os objetos pessoais que deve ter
- o artista deve, cada vez mais, ter menos
- o artista deve, cada vez mais, ter menos
- o artista deve, cada vez mais, ter menos

15. a lista de amigos do artista:
- o artista deve ter amigos que elevem seu estado de espírito
- o artista deve ter amigos que elevem seu estado de espírito
- o artista deve ter amigos que elevem seu estado de espírito

16. os inimigos do artista:
- os inimigos são muito importantes
- o Dalai Lama afirmou que é fácil ter compaixão pelos amigos; porém, muito mais difícil é ter compaixão pelos inimigos
- o artista deve aprender a perdoar
- o artista deve aprender a perdoar
- o artista deve aprender a perdoar

17. a morte e seus diferentes contextos:
- o artista deve ter consciência de sua mortalidade
- Para o artista, como viver é tão importante quanto como morrer
- o artista deve encontrar nos símbolos da sua obra os sinais dos diferentes contextos da morte
- o artista deve morrer conscientemente e sem medo
- o artista deve morrer conscientemente e sem medo
- o artista deve morrer conscientemente e sem medo

18. o funeral e seus diferentes contextos: - o artista deve deixar instruções para seu próprio funeral, para que tudo seja feito segundo sua vontade - o funeral é a última obra de arte do artista antes de sua partida - o funeral é a última obra de arte do artista antes de sua partida - o funeral é a última obra de arte do artista antes de sua partida --

# para onde vai toda a cultura consumida? # ainda tentando achar um caminho para a produção

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Waltercio Caldas

"Aparentemente, um polvo vivo é 90% água. De certa maneira - não me pergunte como -, esse fato ao acaso apareceu em uma conversa com Waltercio Caldas que após um instante retrucou com "ou em outras palavras, toda água é 10% polvo"

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Manuscrito


Sérgio Sister. Manuscrito, 1989

a escrita que é desenho. o desenho que é escrita.


Sérgio Sister. Manuscrito, 1994

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

verão

Eu inventei um cheiro bom pra tua pele

e fico gostando dele de longe.

Meu olho estacionado.

Vontade de lamber teu ombro.

Cansar a tua beleza

até que ela seja minha.

[Michel Klejnberg]

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Charis Wilson e Edward Weston

reflexão #1
ontem assisti ao documentário O Nu Eloquente, de Ian McCluskey. quando fui dormir, não deixei de pensar que talvez esse fosse a primeira história de amor em que a mulher não saísse fragilizada de uma relação amorosa. (ainda nas lembranças de Camille?). de algum modo, a fala de Charis, quando foi buscar os livros na casa de Edward, já bastante debilitado, ecoaram pela noite: "sentia nojo, era ver um tubarão ao qual os dentes foram arrancados". o tempo, o Alzheimer. ela prosseguiu a vida, ele morreu só, com as lembranças da juventude.

reflexão #2
quando a força do olhar de uma musa foi substituída pelo dedinho na boca? pensando sobre a função do retratista, igualar-se a quem fotografa, extrema intimidade transparecida.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

retorno para sp

mas não deixa de existir essa sensação de marginalidade por ser flaneur. por todo tempo que tem que ser preenchido, capitalisticamente. é quase uma culpa por fazer o que se gosta, sentir-se livre do fluxo 8h-17h. dá a impressão de ser só espírito, vagueando, observando as pessoas ao redor, o fluxo comum e ordinário que tem consciência da banalidade, das imposições sociais, dos prazeres construídos pela publicidade e pelo consumo. [como a sombra durante os jantares, sempre presente].

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

En honor de una pérdida

La para siempre seguridad de estar de más en el lugar en donde los otros respiran. De mí debo decir que estoy impaciente porque se me dé un desenlace menos trágico que el silencio. Feroz alegría cuando encuentro una imagen que me elude. Desde mi respiración desoladora yo digo: que haya lenguaje en donde tiene que haber silencio. Alguien no se enuncia. Alguien no puede asistirse. Y tú no quisiste reconocerme cuando te dije lo que había en mi, que eras tú. Ha tornado el viejo terror: haber hablado nada con nadie. Esto pertenece a mi repetición de experiencias. [Pizarnik]

sábado, 19 de janeiro de 2013

nuit avec C.

Eu só quero deixar registrado aqui, como uma nota em um rodapé, que você é a pessoa mais bonita do mundo. A pessoa mais bonita do mundo. Só isso. A mais. Tudo isso.
dos achados desse ano: "no seas tan duro para que no te rompan ni tan blando para que no te doblen" (la takun saifan fatukser wala tariyan fatuser) - ditado árabe

domingo, 6 de janeiro de 2013

filmes 2012 - 94 filmes

- Deserto vermelho, Antonioni - A dama oculta, Hitchcock - Triângulo amoroso, Tom Tykwer - Imortais, Tarsem Singh - Santiago, João Moreira Salles - Mamãe faz cem anos, Carlos Saura - Santo Forte, Eduardo Coutinho - Asas do desejo, Wim Wenders - Sherlock Holmes 2, Guy Ritchie - As canções, Eduardo Coutinho - Amores expressos, Wong Kar-Wai - Anjos caídos, Wong Kar-Wai - O homem que amava as mulheres, Joann Sfar - Os famosos e o duende da morte, Esmir Filho - Mr. Nobody, Jaco Van Dormael - Cinema, aspirinas e urubus, Marcelo Gomes - A vida secreta das palavras, Isabel Coixet - Jogo de cena, Eduardo Coutinho - Abrutres, Trapero - Jaguar, Jean Rouch - Elegia a Alexander, Chris Marker - Nanook do Norte, Flaherty - Sans Soleil, Chris Marker - A liberdade é azul, Krzysztof Kielowski - Outubro, Eiseinstein - Pina, Wim Wender - Teza, Haile Gerima - O fim do sem fim, Cao Guimarães - A alma do osso, Cao Guimarães - Monsier Chat, Chris Marker - A música segundo Tom Jobim, Nelson Pereira dos Santos - Repórteres de Guerra, Steven Silver - Les statues meureunt aussi, Resnais e Marker - Um passaporte húngaro, Sandra Kogut - Sans Soleil, Chris Marker - Crônicas de um verão, Jean Rouch - Classe de lutte, Grupo Medvekine - Viajo porque preciso, volto porque te amo, Marcelo Gomes - Noite e neblina, Alain Resnais - Edifício Master, Eduardo Coutinho - O banheiro do Papa, Cesar Charlone e Enrique Fernandez - Aboio, Marília Rocha - Leite, Semih Kaplanoglu - A fonte das mulheres, Radu Mihaileanu - Algo como a felicidade, Bohdan Slama - A regra do jogo, Jean Renoir - O último dançarino de Mao, Bruce Beresford - Habemus Papam, Nanni Moretti - Aruanda, Linduarte Noronha - A velha a fiar, Humberto Mauro - Ilha das Flores, Jorge Furtado - Ganga bruta, Humberto Mauro - Videocartas, Guerín e Jonas Mekas - Un amour de jeunesse, Mia Hansen-Love - Lady Jane, Robert Guédiguian - A dama de ferro, Phyllida Lloyd - Na cidade de Sylvia, Guerín - Rio 40 graus, Nelson Pereira dos Santos - As incríveis aventuras de Mr. West, Kulechov - O fim e o princípio, Eduardo Coutinho - Viramundo, Subterrâneos do Futebol, Nossa Escola de Samba, Memórias do Cangaço, Caravana Farkas - Deus e o diabo na terra do sol, Glauber Rocha - São Paulo S/A, Sergio Person - Vidas Secas, Nelson Pereira dos Santos - Crazy, Jean-Marc Vallée - Violeta foi para o céus, Andrés Wood - O artista, Michel Hazanavicuss - Cilada.com, José Alvaenga Jr - Matar ou morrer 2, Takashi Miike - Sukiyaki Western Djando, Tarantino - Crepúsculo dos deuses, Billy Wilder - Corumbiara, Vincent Carelli - A pessoa é para o que nasce, Roberto Berliner - Boca de Lixo, Coutinho - A entrevista, Helena Solberg - A opinião pública, Arnaldo Jabor - Pour la suite du monde, Perrault - Mil anos de orações, Wayne Wang - Cinema falado, Caetano Veloso - Marvada carne, André Klotzel - O caixeiro viajante, irmãos Maysles - Despedida em Las Vegas, Mike Figgis - Exilados, Johnnie To - Dias selvagens, Kar-Wai - Um encruzilhada aprazível, Ruy Vasconcelos - Dias de Nietzsche em Turim, Bressane - Footnote, Joseph Cedar - 360 graus, Fernando Meirelles - A floresta dos lamentos, Naomi Kawase - Os intocáveis, Erik Toledano e Olivier Nakache - On the road, Walter Salles - Deus da carnificina, Polanski