sábado, 23 de março de 2013

o homem que era gentil apenas com um pássaro.

acontecia que, já velho, apegou-se apenas ao seu periquito. era o único que repetia as suas palavras, com a mesma entonação e intensidade. aos finais de semana, depois da embriaguez, era apenas com ele que a voz amansava.

A casa das coisas que não se dizem

Hipermetropia

Não, não foi o tempo.
é que eu enxergo melhor na distância.

Por tudo o que não foi

Ela chegou vestida de prata e com o cabelo preso,
ocupando toda a festa no meu pensamento.
Os senhores vão me ouvindo:
- Bonito é um dia de sol, é a gente gostar;
aquilo era Helena. Ali, eu vendia meus irmãos.
Eu não disse nada.
Um olhar insuficiente e eu não disse nada.

Um poema sobre as infinitas formas de amar

- Deita.

[Michel Klejnberg]

terça-feira, 19 de março de 2013

Guimarães Rosa

Nenum,nehuma

segunda-feira, 18 de março de 2013

sobre a pesquisa

como falar de um artista academicamente? sem colocá-lo em uma caixinha de definições ou mesmo sem correr o perigo de ser "tiete", já que a escolha dele para estudar exaustivamente recai em um interesse todo especial. pois foi um ano recolhendo material, aqui e ali. por mais organizado que seja um arquivo, sempre tem alguma coisa que se perde na matéria, ou, por questão de tempo, na memória. e quando tudo mais parece ruir, a grande questão: hipótese. é o sentido, o caminho para onde vai o trabalho, a abordagem da escrita. tento definí-lo mas me parece tão frágil. basicamente é tentar entender seu processo ou as formas que ele construiu para chegar até certos conceitos?? acho que não. parece que também quando falo em acaso, não é a obra, mas a construção da obra. entender a primeira fase fotográfica "barroca", para a saturação e depois para a maturidade. ao mesmo tempo, formas e linguagens se sobrepõem, onde é necessário fragmentar para entender. e tantas questões estruturais que nem sei por onde começar.

quarta-feira, 13 de março de 2013

o Louvre e a passagem

ir em algumas palestras em francês sempre me faz retomar alguns caminhos perdidos na memória. na aula inaugural do Dubois, ao dizer sobre o que a fila na entrada da pirâmide do Louvre indica, ansiedade, irritação, desejo de entrar no mundo da arte, fiquei lembrando das tantas tardes e noites que passava lá. eu entrava quando muita gente já estava indo embora. depois do detector de metais, os grandes corredores de consumo, o starbucks e os orientais com os celulares de última geração, flanando, só olhando pelas vitrines (instigar pelo visual, necessidade de tocar). mas era entrar, pegar meu passe-livre de estudante, escolher a ala e ir ao encontro de algumas preciosidades. Kosuth no porão do Louvre, Kiefer em vãos específicos, passando assim, despercebidos, como móveis velhos em um grande show room. era como só eu visse algo em um grande manto de invisibilidade. claro que isso é besteira, mas era inevitável o sentimento de tudo aquilo me pertencia, do que não era óbvio. pensei que então havia pego uma passagem para um mundo muito próprio, em que as caminhadas constantes, os deslumbres de encontrar estátuas gigantes do oriente ou verdadeiros templos egípcios remontados em toda a sua segurança. (e Dubois disse que as coisas que estão no museu não foram destinadas para estar lá. talvez sim, talvez não. da história os saques e o poder. do contemporâneo, lugares específicos). toda noite saía extremamente feliz, de ter entrado em um mundo que fazia esquecer do frio, da neve e da solidão.

terça-feira, 5 de março de 2013

insônia

na maior parte das vezes, não tenho ideia do que estou fazendo.

segunda-feira, 4 de março de 2013

ele era um anão

gosto principalmente quando olho o passado e não mais vejo a mesma pessoa. simplesmente assim, sem mas com todo sentido. hoje eu olhei aquela lesma, fiquei com vontade de jogar sal. colocar em um lenço e enterrar. mas inevitavelmente o tempo tem feito isso. mas é claro, não deixa de existir a vontade de uma pequena (e desnecessária) vingança.

sexta-feira, 1 de março de 2013

noturno

seriam os noturnos carregados de melancolia? imobilidade da noite, silêncio que resvala em torno das sombra do taquaral. o espelho que reflete parte do rosto. luzes artificiais. nuvem que rasga a noite, através da lua em seu estado crescente. o incrível silêncios das coisas vivas, mas em repouso. -- março inicia com Debussy