quinta-feira, 14 de abril de 2016

mal estar

tempos difíceis esses em que vemos progressivamente o crescimento de um novo fascismo no Brasil. a mídia despertando nas pessoas o seu pior, manobrando e guiando todo ódio, de um modo que elas pensem que a salvação seja o impeachment da presidenta. ocorrendo isso, depois da votação da câmera no domingo, tempos sombrios em que Cunha reina com toda a intolerância e prepotência de seu discurso. um aperto forte no coração. necessidade de algo urgente que possa reacender e mudar isso, assim de repente.
domingo é a votação e gostaria de estar bem longe do bairro que bate panelas e compactua com tudo isso. ignorância e egoísmo.
diante tudo isso, não apenas no Brasil, mas no mundo, a onda conservadora e radical. imigração e fronteiras em discussão. logo mais vivencio isso e fico pensando: meu coração aguenta? ainda é possível mante-lo esperançoso?

a la Experiência n. 2, de Flávio de Carvalho

na Sé, ato a favor da democracia. estavam ali todos reunidos, dançando, cantando em meio a chuva. assim como na Paulista no dia 18.3, um clima de união contra a desolação individual e o bombardeio constante da mídia.
peguei um adesivo "Unicamp contra o golpe" e colei na blusa. encontrei amigos, foi bonito ver os balões vermelhos bloqueados pelas palmeiras-imperiais da Sé.
na volta, desço na estação Imperatriz Leopoldina, ainda com o adesivo. na avenida que dá o nome a estação, olhares de ódio, raiva. firmo o passo e sigo em frente. ignoro os vários virares de cabeça. me sinto como Flávio de Carvalho na procissão de Corpus Christi. quando chego em frente a universidade UMC um grupo de rapazes vira a cabeça. um deles grita quando eu passo: vai tomar no c**! piii, piiiii, piiiiiii.... pensei no que é esse cultivo ao ódio. no que a mídia desperta de pior nas pessoas. de que a maioria dos estudantes que me xingaram, me viam como inimiga. pois todo o ódio e revolta atual eram canalizados em duas pessoas: Dilma e Lula. e que todos que não eram a favor do golpe, deveriam ser hostilizados, punidos e sabe se lá, como muitos acreditam, fazer justiça com as próprias mãos.
tempos difíceis. pensei que precisamos absurdamente de união e precisamos também de muito amor para tentar romper esse círculo de intolerância e ódio. e é urgente dar voz a nossa insatisfação diante disso. para que, tout doucement, mude algo em tudo isso que a mídia tem despertado para a maioria das pessoas. e esses sentimentos, a longo prazo, que não são nada bons.

31.03.2016