sábado, 7 de dezembro de 2013

a elegia como princípio estrutural

(...) A poesia elegíaca se distingue não por uma erupção lírica de desgosto e melancolia, e sim por um pungente, embora distintamente atenuado sentimento de perda e tristeza. O traço contemplativo deste gênero cria uma sensação de distância que torna mais polida a experiência lírica imediata. A poesia elegíaca é, portanto, caracterizada por dois modos de expressão distintos: trata-se de um gênero pessoal e autocentrado que, simultaneamente, minora os sentimentos de perda e dor através do ato da contemplação.
A tensão antitética que subjaz à poesia elegíaca advém da integração de diferentes momentos temporais num único espaço lírico. Quando o passado e o presente se encontram, como costuma acontecer na poesia elegíaca, o passado é retomado e situado no contexto do presente. A poesia elegíaca une o passado ao presente de modo a desnudar a ambos de suas funções específicas: "O passado é conjurado ao tempo presente de modo que forme uma antítese à nossa experiência momentânea. A descrição do momento presente perde seu caráter de experiência e torna-se algo mais universal"(WEISSENBERGER). Tal integração de instâncias temporais díspares - o passado e o presente - contribui para o efeito produzido pela elegia de aliviar a angústia provocada em nós pela morte e pela perda em geral. A elegia alcança este efeito mediante a justaposição de tristeza e alegria. Elegias contrastam o fim da vida com as memória de alegrias anteriores, e - diante da dor iminente - trazem à mente momentos mais idílicos.

[Os retratos cinematográficos de Sokurov. Eva Binder em Alexander Sokurov: poeta visual. p. 56-67]

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