quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

2014

a virada para o ano de 2014 foi indicativa: no apartamento, sobá e reflexão. o desejo de um ano voltado para o amadurecimento. o início do ano teve mar, caraguá e maresias. até abril, yoga e a meditação. muita solidão e escrita. o resultado, depois de tantos altos e baixos veio no dia 29 de agosto. o mestrado foi finalizado da melhor forma que poderia finalizar. sentimento de reconhecimento diante os dois anos e meio. os meses seguintes foram preenchidos com os estudos no inglês, a cirurgia (e o entendimento de toda a fragilidade do corpo), junto as preocupações de um amor constante (e pequenas viagens para santos e são bento do sapucaí). também vieram na mesma onda as inquietudes do futuro e a busca por um meio de subsistência.
na família, mais um membro nasceu, agora, envolto de oito meses de amor. S. está crescendo e mudando a cada dia.

janeiro começa em BH. ainda reverberando esse ano. colocar as coisas em movimento e acreditar que as coisas vão aos poucos se definindo.

a tulipa se consolidou no braço direito. acreditar, acreditar, acreditar que tudo é encaminhado para algo.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

the chapter in your life entitled...

não foi o meu melhor.
mas pode ser um futuro capítulo.

The Lucksmith

domingo, 19 de outubro de 2014

#sonho

a beira-mar. a tampa do bueiro vazava um líquido escuro enquanto eu andava por uma galeria abandonada.
era engraçado porque um homem repetia como e porquê aquilo era uma grande obra de arte contemporânea.
passei por um caminhão e alguns homens trabalhando perto do bueiro. nele, algumas barras de ferro fincadas. a pressão da água era grande. as tampas dos bueiros não iriam mais aguentar toda a imensidão da água que estava para sair.

De Chirico cada vez mais presente nos sonhos.

(12.10.2014)

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

c.i.r.u.r.g.i.a

a fragilidade do corpo que tenta acordar aos poucos, mas os sentidos não estão ainda completos. a sensação de desconforto na maca. abrir os olhos, sentir dor. ouvir os ruídos mas ver o corpo não responder. sede e a impossibilidade de água.

foi uma das piores sensações já sentidas. a dor, aguda, como nunca antes. a resposta que não é regida pelo pensamento. lembrar da fragilidade. pensar que. nunca mais quero passar por isso.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Corpo_Cidade

querida E.,

obrigada pelo convite para assistir ao Corpo_Cidade. vim acompanhando o seu processo ao longo do último ano, e, estar lá, foi presenciar um pouco de nossas conversas. os desejos, a convivência, mas tudo em um nível agora mais concreto. ontem eu vi você camuflada de cidade. também estavam lá todas as durezas e doçuras que são paulo permite. deixo abaixo minhas impressões sobre ontem.

parte I - solo você estava parada na praça e eu pensei o porquê do seu olhar para o horizonte. era um olhar que via, ou que se fingia alheio à realidade? a praça transmite um sentido de segurança. as pessoas caminham mais devagar do que nos arredores. prefiro pensar que são as árvores e as sombras e os paralelepípedos. seguir você me fez pensar que eu era um tipo de anjo, que vela e observa. nunca interfere, apesar de saber que minha presença era sentida. entendi que é maravilhoso se desprender das câmeras, experienciar antes de qualquer coisa. observá-la sentada, como pedinte de amuletos: o código de estar sentada - passividade e algo que as pessoas aprendem em cidades grandes. ignorar para continuar o caminho sem interferências. como se torna algo difícil tirar a camada de objetividade da vida e ouvir um pouco o outro. o seu olhar era brando.

parte II - coletivo. a apreensão inicial da loja, na rua guarani, 63, me fez pensar se os vendedores eram atores. o casaco de um deles era incomum para o calor que fazia lá fora. caminhei até em frente da oswald de andrade. estavam todos parados, como se congelados por um momento. me chamou a atenção a moça estática, com a mochila aberta em um movimento de guardar o celular. o caminhar (im)perceptível não era visto pelos passantes. alguns se detiveram curiosos.

das grandes potências do espetáculo - a contravenção de parar o trânsito. tensão para quem vê e sente como o tempo de abrir e fechar o semáforo é outro. também no posto de gasolina desativado. a beleza de ocupar o espaço e resistir. na minha percepção, as máscaras (e os códigos-máscaras) e os beijos nas faixas de pedestres poderiam ter sido mais sutis. os corpos de cada um já são significativos o suficiente.

diante disso tudo, você chegou com a caixa de carne crua. a interferência de um senhor, indignado, me fizeram pensar em duas facetas da ação. o incômodo a ponto de ele parar a viatura da polícia (sob o pretexto, para mim engraçado, que você estava sujando a rua) e algumas pessoas que começaram a vaiar a atitude do homem. o apoio e a cumplicidade de quem via. foi bonito. e tenso. seu olhar, quando chegou, era algo próximo de um sentimento de urgência.

na praça, tudo tomou outros ares. os corpos distribuídos na praça, ocupando o espaço. logo a frente, um ator filmava uma "pegadinha". presenciei a encenação da produtora chamar uma mulher e pedir para ela dar um grito "histérico". a realidade maquiada da televisão. a diferença clara do espetáculo e a poesia no mesmo lugar da ação sensacionalista.

entramos todos no metrô e desde então minhas pernas começaram a cansar. talvez pelo calor ou pela tensão do inesperado. pensei que o espetáculo, apesar da força, não era muito solidário a possíveis fragilidades do espectador. a parte em que o metrô abre e vocês acolhem os colegas foi repentina e brusca - um respiro diante a paisagem dos dias cotidianos.

no caminho da estação armênia, saltei para o meu destino. deixei vocês e a continuidade do espetáculo. de alguma forma todo o sentido da peça reverberavam em algumas reflexões. minha cabeça pululava de questões diante do que havia visto. pensei que estar na cidade é estar sujeito à: câmeras, polícia, insultos, incompreensão, "pegadinhas", mas também estar em contato com raros momentos de beleza possíveis somente dentro do caos cotidiano. a dialética da vida. possível somente pelos contrastes. esse respiro, claramente exposto na proposta, para mim foi permeado de sensações. do sorvete e bolinho que comia enquanto observava vocês pelas ruas, até a fila da catraca que vocês fizeram para entrar no metrô. passar novamente por lá, vai ser resgatar essa memória e ver a cidade com mais carinho.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

changing

Colours that only gradually revealed themselves.
I walked on the stony beach and imagined I was a part of the nature of the island, and that I would alway live here.
I tried to love the turbulent sea, the strange colors that released their beauty so frugally.
And the more I tried, the more frightened I became that I would not be living there much longer.
I wanted to open my arms and embrace it all, but became my fear that it would never be mine was so great, it never became mine.
I lived there for a brief period of my life, and what I brought away with me was not the stones and the trees and the beauty.
I left the island with loneliness in my baggage, and the feeling that something inside me had changed forever.
[liv. ullmann]

sábado, 6 de setembro de 2014

celebração

foi tão esperado esse sentimento.
reconhecimento. excelência em pesquisa. sugestão para a publicação.

aos poucos, durante as semanas estou retomando os planos, os sonhos e a realidade nova diante às necessidades.

novos planos. agradecimento a tantos.

enquanto isso, completamos cinco meses juntos.

sábado, 5 de julho de 2014

Rainha de Espadas

aos pouquinhos, veio assim.
em tom crescente. allegro ma non troppo.

sábado, 21 de junho de 2014

inevitável

tudo passando tão rápido. menos de um mês para entregar a versão final do trabalho de dois anos e meio. misto de sentimentos. necessidade de mudar de ares. um certo medo e insegurança diante o futuro.
cada dia em uma casa.
cada dia um novo sentimento.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

incerteza

quanto ao futuro.

terça-feira, 3 de junho de 2014

a fragilidade das classificações

"Tinha vontade, explicava, de classificar essas etiquetas, mas a coisa era difícil: havia, é claro, a ordem cronológica, porém ele a considerava pobre, mais pobre ainda que a ordem alfabética. Tentara classificar por continentes, depois por países, mas isso não o satisfazia. O que pretendia era um encadeamento, de modo que cada etiqueta estivesse ligada à seguinte, mas sempre por um motivo diferente; por exemplo, poderiam possuir um detalhe em comum, um vulcão ou montanha, uma baía iluminada, uma flor específica, um mesmo friso vermelho e dourado, a cara gorda de um cavalariço; ou então ter um mesmo formato, uma mesma forma de grafar, dois slogans semelhantes ("A Pérola do Oceano", "O Diamante da Costa"; ou, ainda, uma relação baseada não na semelhança mas numa oposição, ou numa associação muito leve, quase arbitrária: um povoado minúsculo às margens de um lago italiano seguido de um arranha-céu de Manhattan, esquiadores sucedendo-se a pessoas que nadavam, fogos de artifício a um jantar à luz de velas, uma estrada de ferro a um avião, uma mesa de bacará a uma estrada etc. Não era apenas difícil, acrescentava Winckler; era sobretudo inútil: deixando as etiquetas misturadas e escolhendo duas ao acaso, podia-se estar certo de que teriam sempre pelo menos três pontos em comum."

[PEREC, Georges. A vida modo de usar. São Paulo: Companhia das Letras, 2009 - p. 49.]

quarta-feira, 28 de maio de 2014

R. (II)

já posso sentir saudade?

do olhar de soslaio da janela do seu quarto.
os copos na varanda, preenchidos com a chuva do dia seguinte.
a música carregada de outros tempos.
toque. delicado.

I.

tentar cultivar meu amor por I.
e seguir minha vida independente dela.

ela não sabe, mas. já existe um muro que não permite a transparência da fala e das emoções. eu sabia, mas fingi esquecer.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

retirar para construir - a síntese final

lembro vagamente agora sobre como aprendi sobre a cor branca na faculdade. como era inserir essa cor, tão neutra, mas que potencializa outras cores e tonalidades. acho que assimilei somente a ideia quando vi uma obra de Lucian Freud em minha frente. eram camadas e tonalidades para dar aquela forte impressão de carne, la chair. (meu espanto no Pompidou levou semanas)
*
acontece de agora de tentar entender como acontece o princípio da "retirada da matéria". M. fazia isso muito bem. construía quadros inteiros de superfície de grafite para depois retirar, traçar pela ausência.
estou naquele momento da pesquisa em que meses inteiros são deslocados para um arquivo morto. minha esperança é que, em algum momento da minha vida, eles voltem a fazer sentido. ou, que, no dia D. não seja inquirida por eles.

terça-feira, 6 de maio de 2014

poéticas do arquivo

"Uma utilização do arquivo faz da montagem, da colocação em relação do passado com o presente, um puro encontro de heterogêneos sem troca, outro que faz desses encontros uma versão consensual, onde os arquivos se dão como explicação acabada do presente. Penso então em uma poética do arquivo. Esta poética do arquivo recupera textos, imagens e nomes históricos e os conecta com novos eventos e outras imagens, sem pretender a totalidade do evento primeiro. O arquivo não é uma parada em um momento histórico, mas uma abertura para suas qualidades combinatórias, criativas – da história e das imagens. Como se os eventos não pudessem ser jogados fora, devendo-se guardar a virtualidade de algo que foi no passado, uma virtualidade do discurso, uma força criadora que surge dos próprios homens e que corre o risco de ser apagada como um todo. Guarda-se a potência de transformação do presente do acontecimento que transborda o tempo em que foi produzido."

Cezar Migliorin.
aqui

sexta-feira, 2 de maio de 2014

R.

gosto da penumbra pela manhã.
e por perguntar se ainda procuro desertos.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

abril

querida L.,

sinto saudades imensas de você. acho que você é a única pessoa que conheci que partilha esse sentimento de ilha. as vezes tão desolador.
abril foi um mês festivo. teve o nascimento de uma criança e atos mergulhados em euforia. também houve crises frequentes em relação ao amor. defini aqui também um ninho afetivo, localizado nesse pequeno apartamento.
hoje faz seis meses que eu mudei para cá.
estou retomando os trabalhos aos poucos. não tenho a sua coragem. ainda me escondo nos livros. mas eu ainda acredito sair da concha aos poucos. talvez seja essa a minha salvação. tenho fé.

quando puder, me mande alguns dos seus pensamentos. mesmo telepaticamente.

com amor,
C.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

O livro do chá

(...) Na arte, a importância do mesmo princípio é ilustrada pelo valor da sugestão. Ao deixar algo não dito, é concedida ao observador a oportunidade de completar a ideia; desse modo, uma grande obra-prima prende sua atenção até você ter a impressão de ser realmente parte da obra. O vácuo está ali para que você possa entrar e preenchê-lo completamente com sua emoção estética. (O Taoísmo e o Zen - p. 60-61)

O zen, com sua teoria budista da efemeridade e sua busca pelo domínio do espírito sobre a matéria, aceitou a casa apenas como um refúgio temporário para o corpo. O corpo em si era somente uma cabana no ermo, um abrigo frágil que se faz amarrando hastes de gramíneas que crescem por toda parte - e, quando as amarras se dissolviam, as hastes se decompunham no ermo original. (O aposento da cerimônia do chá - p. 77)

No aposento de chá, fica a cargo de cada conviva completar o efeito total em relação a si mesmo através da imaginação. Desde que o zen se tornou a corrente de pensamento predominante, a arte do Extremo Oriente evitou intencionalmente a simetria por considerá-la expressão não somente de completude, como também de repetição. A uniformidade de um desenho era considerada fatal para o viço da imaginação. Assim, paisagens, pássaros e flores tornaram-se temas favoritos de pinturas em detrimento da figura humana, e esta última está presente apenas na pessoa do próprio observador. (p. 80)

A apreciação estética do incompleto não teve origem no chanoyu. Mesmo no clássico Ensaios sobre a ociosidade (1331, aproximadamente) podemos encontrar a afirmação: "Em todas as coisas, a completude de todos os detalhes não é desejável; aquilo que é deixado simplesmente inacabado prende o interesse". (Posfácio de Hounsai Genshitsu Sen - p. 135)

OKAKURA, Kakuzo. O livro do chá. São Paulo: Estação Liberdade, 2008.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Masao Yamamoto

Conheci a obra de Masao Yamamoto não me lembro bem ao certo, mas sei que foi pela internet. Foi uma daquelas imagens, puxadas ao acaso, que aparecem junto à pesquisas não muito bem delimitadas, e que trazem as vezes agradáveis surpresas. A imagem era de uma pequena floresta, aparentemente em uma planície. Na entrada, em frente as árvores, um tori. Conhecido como um portal entre o mundo terreno e o plano sagrado, espiritual, o tori muitas vezes encontra-se na entrada dos santuários xintoístas.

Acredito que essas informações não me passaram pela cabeça quando vi essa imagem. Pensei no contraste, na força de tantas árvores altas e frondosas, nascerem em um lugar, aparentemente inóspito. Essa foto, em especial, faz parte da série Kawa=Flow, em que Yamamoto diz que são reflexões sobre o mundo aonde estamos e ao mundo em que vamos no futuro.

A influência do budismo e sobretudo o Zen estão presentes em todas as suas séries como A box of Ku, Nakazora e Kawa-Flow. Nessa última série, no site do artista, um bonito relato sobre aquilo que o move filosófico e espiritualmente: a transição da natureza, um poema Haiku do monge Ryokan, o ciclo de vida de uma gota que cai das montanhas e integra os mares.

Não é necessário saber qualquer informação prévia quando estamos diante das fotografias. Muitas são em pequenos formatos, para que a contemplação ocorra de forma íntima, com o nariz próximo ao vidro. Desse modo, percebe-se os rasgos na fotografia, as beiradas irregulares, as incisões no papel fotográfico (na gelatina de prata) que transparecem em uma cor diferente daquela do monocromático preto e branco.

Tanto poderia ser dito sobre o método de trabalho e quanto da estética japonesa encontra-se inserida no seu trabalho poético. Mas acredito que não seja necessário. Presenciar, sem pressa e silenciosamente, já basta para compreender o pequeno mundo do artista. Está tudo ali, em cada imagem a ser contemplada.

Site do artista: http://www.yamamotomasao.jp
Exposição na Galeria Marcelo Guarnieri. Al. Lorena, 1966 - São Paulo - De 7/4 a 5/5/2014

segunda-feira, 31 de março de 2014

de segunda a um ano

Numa conferência sobre Zen-budismo no inverno passado, o dr. Suzuki disse: "Antes de estudar Zen, homens são homens e montanhas são montanhas. Enquanto se estuda Zen as coisas se tornam confusas: não se sabe exatamente o que é o que e qual é qual. Depois de estudar Zen, homens são homens e montanhas são montanhas."

Depois da conferência foi feita a pergunta: "Dr Suzuki, qual é a diferença entre homens são homens e homens são homens e montanhas são montanhas depois de estudar Zen?"

Suzuki respondeu: "A mesma coisa, só um pouco como se você tivesse os pés um tanto fora do chão"

[de segunda a um ano - John Cage]

quinta-feira, 27 de março de 2014

querida L.,

será que a sensação de abandono, que você sentia quando criança, era próxima a isto?

quinta-feira, 20 de março de 2014

sonho

acordar com essa impressão é muito estranho.
um silêncio quase mórbido. não sobreviveu ninguém diante a tragédia. o furacão passou e eu estava dormindo.
e despertar aos poucos, perceber os sons. localizar o ambiente da casa. o teto, o escuro.

*


no outro sonho, acordava diante a penumbra do dia. todos dormiam. abria a porta da única casa da pequena ilha, localizada ao alto da colina. ali, diante de mim, a natureza e dois blocos de montanhas em diferentes tonalidades. a água do mar que batia violentamente. eu presenciava a força de um titã, diante meus olhos.

sábado, 15 de março de 2014

fotografia

nosso olhar irradiava felicidade.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

escritos de amor entre artistas

"O sol nasce no oriente. O cordão umbilical do dia é queimado a incenso e pólvora.

O que ela quer ninguém sabe. Nem mesmo ela saberia dizê-lo. Isso às vezes a faz sofrer, às vezes a liberta. Dizer de seu desejo, justificar suas intenções.
(...)
Em Hume, o conhecimento é adquirido através do hábito e da observação – a percepção diária do movimento do sol durante o ano pela projeção da sombra de um arbusto no parapeito da janela. Mas e se fossemos um pouco alem do mero conhecimento objetivo e começássemos a observar apenas as linhas e as formas das coisas? E se nos habituássemos a olhar o mundo de uma forma ausente de objetividade porém plena de expressividade? E se começássemos a adquirir o hábito de nos esquecermos diariamente de nós mesmos e de passarmos a existir como rastro e resíduo junto às migalhas de pão, às pétalas secas, no encalço de formigas?
(...)
Tarde da noite ela fala de pequenas mortes. Ela fala de pequenas mortes ao mesmo tempo em que adormece. Um dia morre com ela levando seus rastros para os sonhos. Isso às vezes a faz sofrer, às vezes a liberta."

Cao Guimarães, em 1997, para Rivane Neuenschwander

domingo, 16 de fevereiro de 2014

organismo vivo


águas que revolvem pensamentos.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

rua Carlos Weber, 184.


ali era a fábrica da Tranquillo Giannini, lugar que se construía instrumentos em uma época em que a Rua Carlos Weber era só indústrias e fábricas. pela caminhada de hoje, pensei no lugar como um grande galpão, espaço dedicado a arte contemporânea. foi o relâmpago de um sonho, transformar o abandonado em algo próximo daquilo que vi muito em Berlim. está perto da estação de trem. viria muito gente para ver o que se está produzindo em toda emergencialidade brasileira. talvez um dia. eu vi que das ruínas brotaram algumas árvores. ou árvores que brotam pedras.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

bonito.

"Seu canto preferido
da cidade
era naquele bar
naquela cadeira
daquela mesa
convertida em cavalete
onde se punha
a perseguir o silêncio
com as mãos"

aqui

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

unknown

eu queria sentir o seu cheiro.
ainda sem nome, então, desconhecido.
também sem forma, não tátil.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Uma ferramenta da revista Time calcula quanto tempo das nossas vidas já perdemos no Facebook. Minha conta, desde 2009, resultou em quase 20 dias. Quase um mês.
Eu não fiquei assustada porque sei que passo muito mais tempo por lá, em um tipo de procrastinaçao viciante. É como olhar para uma janela e ver o mundo em suas cores irreais, rosas e tons de pastel passarem em minha frente. Fulano casou, ciclano teve filho, outro cortou o cabelo e mudou a foto do perfil.
Mas uma coisa que ninguém fala, justamente por ser assustadora, é o porquê.
Arrisco o palpite que é muito triste nos depararmos diante nossa própria solitude (porque solidão virou tudo, menos o que deveria dizer). Eu posso ter um jantar incrível sozinha, mas gostaria de ter alguma companhia. Mesmo que bem depois, quando já no processo da digestão. Para se sentir menos só, o processo: celular, foto, postagem, curtidas e comentários funcionam como um grande paleativo das nossas dores. E acho que esse sentimento vai além do sentido de aparecer. Não tanto mais o ter em vez do ser proclamado desde a modernidade.
Acho sim que estamos cada vez mais sós, a ponto de não sabermos mais como lidar. Diante o trabalho e a vida corrida cotidiana ocupadamente ocorre. Mas é na espera de um café, do elevador, de alguém chegar é que bate algo que é suprimido pela ação de puxar o celular a mão.
Meu pai chama o computador de "caixa de solidao". Para mim é um misto de tudo, porque a tecnologia é sempre o resultado que fazemos dela.
Vai saber se daqui um tempo, em uma geração definiva (se é que isso existe,- mas nada me tira a ideia que estamos em um período de transição de algo mais norteador), seremos conhecidos como "solitários não conscientes". Diante tudo, resta acreditar que a vida deixe de ser potência e observação para se tornar vivida de modo mais pleno. Um pouco mais de coragem para dizer, e não tanto orgulho, para perguntar: hei, você quer jantar comigo?

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

D.

então ressignificar é isso. olhar para o passado e sorrir pela grande história vivida.
não mais pensar nas últimas cartas, nas ofensas recíprocas. mas posso te dizer, foi só quando eu decidi deixar de lado tudo o mais, e ir viver, é que isso se tornou uma vida passada. quem disse que não podemos viver tantas vidas em uma só? o hoje ainda está começando.
*
Y te agradezco que hayamos compartido momentos tan felices juntos.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

microuniversos

carta aos amores perdidos

carta a D.

a caminhada consistia em um pouco mais de um quilometro. ainda no começo, veio a chuva. fina e fraca até se tornar espessa e cair com violência nas calhas das casas. das ruas escuras, iluminadas pelos relâmpagos. estrondos adentravam as ruas da lembrança de Colônia do Sacramento.
você me ensinou a admirar relâmpagos. e não temer os silêncios que antecedem tempestades.

domingo, 12 de janeiro de 2014

O Cavalo de Turim, Bela Tarr

"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: 'Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência (...)' Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim?".

[A Gaia Ciência, na crítica de Fábio Andrade]

antes de tudo, a movimentação da câmera. o plano sequência e a estaticidade da câmera como um ponto final. a mesma ação vista em um ângulo diferente: a refeição que se resume a batata, o vestir e desvestir as roupas. a recusa do cavalo (quem disse que os animais também não são suicidas?). o poço que seca. a luz barroca e pictórica de cada cena. a trilha arrebatadora.

sábado, 4 de janeiro de 2014

videobrasil 2013-2014

gostei muito dos papéis encurvados pelo tempo.

Mecânica, versão negra, 2012, de Flávia Ribeiro.

também da fala e da movimentação de câmera do vídeo, de Maya Watanabe.


El contorno, 2011.

sentimento de ilha

e se fosse possível dar uma imagem, um rosto para o que (até banalizado já está, levemente) chamamos de solidão?