quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Uma ferramenta da revista Time calcula quanto tempo das nossas vidas já perdemos no Facebook. Minha conta, desde 2009, resultou em quase 20 dias. Quase um mês.
Eu não fiquei assustada porque sei que passo muito mais tempo por lá, em um tipo de procrastinaçao viciante. É como olhar para uma janela e ver o mundo em suas cores irreais, rosas e tons de pastel passarem em minha frente. Fulano casou, ciclano teve filho, outro cortou o cabelo e mudou a foto do perfil.
Mas uma coisa que ninguém fala, justamente por ser assustadora, é o porquê.
Arrisco o palpite que é muito triste nos depararmos diante nossa própria solitude (porque solidão virou tudo, menos o que deveria dizer). Eu posso ter um jantar incrível sozinha, mas gostaria de ter alguma companhia. Mesmo que bem depois, quando já no processo da digestão. Para se sentir menos só, o processo: celular, foto, postagem, curtidas e comentários funcionam como um grande paleativo das nossas dores. E acho que esse sentimento vai além do sentido de aparecer. Não tanto mais o ter em vez do ser proclamado desde a modernidade.
Acho sim que estamos cada vez mais sós, a ponto de não sabermos mais como lidar. Diante o trabalho e a vida corrida cotidiana ocupadamente ocorre. Mas é na espera de um café, do elevador, de alguém chegar é que bate algo que é suprimido pela ação de puxar o celular a mão.
Meu pai chama o computador de "caixa de solidao". Para mim é um misto de tudo, porque a tecnologia é sempre o resultado que fazemos dela.
Vai saber se daqui um tempo, em uma geração definiva (se é que isso existe,- mas nada me tira a ideia que estamos em um período de transição de algo mais norteador), seremos conhecidos como "solitários não conscientes". Diante tudo, resta acreditar que a vida deixe de ser potência e observação para se tornar vivida de modo mais pleno. Um pouco mais de coragem para dizer, e não tanto orgulho, para perguntar: hei, você quer jantar comigo?

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

D.

então ressignificar é isso. olhar para o passado e sorrir pela grande história vivida.
não mais pensar nas últimas cartas, nas ofensas recíprocas. mas posso te dizer, foi só quando eu decidi deixar de lado tudo o mais, e ir viver, é que isso se tornou uma vida passada. quem disse que não podemos viver tantas vidas em uma só? o hoje ainda está começando.
*
Y te agradezco que hayamos compartido momentos tan felices juntos.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

microuniversos

carta aos amores perdidos

carta a D.

a caminhada consistia em um pouco mais de um quilometro. ainda no começo, veio a chuva. fina e fraca até se tornar espessa e cair com violência nas calhas das casas. das ruas escuras, iluminadas pelos relâmpagos. estrondos adentravam as ruas da lembrança de Colônia do Sacramento.
você me ensinou a admirar relâmpagos. e não temer os silêncios que antecedem tempestades.

domingo, 12 de janeiro de 2014

O Cavalo de Turim, Bela Tarr

"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: 'Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência (...)' Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim?".

[A Gaia Ciência, na crítica de Fábio Andrade]

antes de tudo, a movimentação da câmera. o plano sequência e a estaticidade da câmera como um ponto final. a mesma ação vista em um ângulo diferente: a refeição que se resume a batata, o vestir e desvestir as roupas. a recusa do cavalo (quem disse que os animais também não são suicidas?). o poço que seca. a luz barroca e pictórica de cada cena. a trilha arrebatadora.

sábado, 4 de janeiro de 2014

videobrasil 2013-2014

gostei muito dos papéis encurvados pelo tempo.

Mecânica, versão negra, 2012, de Flávia Ribeiro.

também da fala e da movimentação de câmera do vídeo, de Maya Watanabe.


El contorno, 2011.

sentimento de ilha

e se fosse possível dar uma imagem, um rosto para o que (até banalizado já está, levemente) chamamos de solidão?