terça-feira, 12 de junho de 2018

O museu do silêncio, de Yoko Ogawa

"O que eu quero são coisas que guardam, da forma mais vívida e fiel possível, a prova de que aqueles corpos realmente existiram, entende? Algo sem o que os anos acumulados ao longo da vida desmoronariam desde a base, algo que possa eternamente impedir que a morte seja completa. Não são lembrancinhas sentimentais, não tem nada a ver com isso." (p. 45)

"Meu irmão é do tipo de pessoa que não dá muita importância para coisas e posses. Ele não se apega. Talvez por conhecer bem como toda a matéria é composta. Mesmo a pedra mais preciosa é só uma combinação de átomos, e mesmo no animal mais reles e nojento as células se combinam em arranjos lindos. A aparência das coisas é só uma farsa. Por isso ele dá mais valor ao mundo que os olhos não enxergam. Ele sempre dizia que "o primeiro passo da observação é ter consciência de quão rudimentar é a precisão do olho humano". (p. 89)

"- Deve ser porque os meus ouvidos estão cobertos pelas ataduras. Então escuto os sons que vêm de dentro de mim. Minha mãe sempre diz que se a gente quiser saber o futuro, é só tapar os ouvidos. Assim dá pra ouvir a voz dentro da gente lá longe, no futuro." (p. 106)

"Dentro dela havia um pente, uma colher, um anzol e uma bola de gude. Isso era tudo. Aparência, comida, trabalho e memória. Era o menor museu possível representando a vida daquele homem." (p. 208)