a mudança já estava todo planejada. mas no decorrer do dia, descobriu que não era sozinha que iria viver. iria chegar mais três pessoas, duas dividindo o mesmo quarto. não era mais como da última visita. o armário era maior, com portas corrediças e um rodapé como antiga moradia de ratos. o piso de assoalho retangular, a luz amarela do entardecer. tudo parecia refletir o calor.
"- Não olhe para o ventilador, ele não funciona" disse o rapaz de rabo de cavalo de olhar astuto, mas um pouco medroso. deixou as malas e saiu para se refrescar.
não sabia bem como todos caberiam ali. uma cama de casal, três pessoas.
a terceira parecia ser a mais nova de todas. tinha a mesma idade, 26, mas seus cabelos e trejeitos anunciavam bem menos idade. Ficava a pular pela casa, junto com a outra moradora. não sei bem como era essa última.
olhei para a janela. eram duas camadas de vidro, a que dividia o espaço externo estava quebrada. transparecia a desolação de uma antiga fábrica enferrujada, com grande parte de suas armações inundadas. esse quarto ficava suspenso em um grande lugar com um posto elevado. era como o poço do clube anhanguera, que conhecia quando criança.
subiu as escadas e na parte de cima havia aulas de natação.
"- Somente para a terceira idade" disse o guia.
a partir daí, iniciou-se uma fuga. uma das partes da casa tinha o teto tão baixo, e uma areia fina, que era impossível permanecer de pé.
*
o pé direito doeu. ao olhar para ele, não era mais a rachadura de sempre que estava lá. havia um grande buraco. cheiro de terra e umidade, pequenos, mas inúmeros ramos adentravam a sola. podia puxar um dos galhos, mas a surpresa em ver as raízes foi tanta que o medo a impeliu de puxar. parecia que se puxasse, iria doer, arrancar um pedaço de seu próprio pé. as raízes estavam a mostra e a escuridão transparecia uma imensa profundidade. tudo muito orgânico. um pé que agora transparecia os pequenos galhos que agora talvez insistissem em ir para outro lugar.
*
enquanto isso, dormia. no fundo duas camadas de som. o chacolhar do ônibus e o assobio do cobrador, cantando levemente uma canção desconhecida.
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
problemas de linguagem
ele disse: olvide essa mujer
ela entendeu: ouça essa mulher
mas olvidar não era ouvir. era esquecer.
ela entendeu: ouça essa mulher
mas olvidar não era ouvir. era esquecer.
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
revisitando Sokúrov
“Como nasce esse rio?
De onde sai esse rio?
Esse rio sai de mim.
Eu vou morrer, talvez em breve,
talvez não, mas a corrente
continua existindo.”
Alexandr Sokúrov
De onde sai esse rio?
Esse rio sai de mim.
Eu vou morrer, talvez em breve,
talvez não, mas a corrente
continua existindo.”
Alexandr Sokúrov
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
futuro.
alguns pensamentos crescem mais maduros e certeiros conforme o tempo. voltar para casa com um sorvete, acreditando que a decisão foi, de fato, certeira. porque se não fosse, dificilmente você se sentiria tão feliz e satisfeita.
já não acho mais, como há dois anos, que uma cidade pode mudar minha vida. que os erros e vícios em São Paulo, fazem parte de um lado incompleto, perhaps, infeliz. que, talvez, exista essa satisfação em manter o ponto de equilíbrio em buscar o que de fato se acredita, saindo da zona de conforto. calmamente. sem grandes alardes. deixar que a ansiedade passe. deixar que o medo passe. para simplesmente encarar tudo com certeza.
um pequeno grande passo, titubeante, mas para frente.
já não acho mais, como há dois anos, que uma cidade pode mudar minha vida. que os erros e vícios em São Paulo, fazem parte de um lado incompleto, perhaps, infeliz. que, talvez, exista essa satisfação em manter o ponto de equilíbrio em buscar o que de fato se acredita, saindo da zona de conforto. calmamente. sem grandes alardes. deixar que a ansiedade passe. deixar que o medo passe. para simplesmente encarar tudo com certeza.
um pequeno grande passo, titubeante, mas para frente.
domingo, 5 de fevereiro de 2012
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