sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

sonho de uma noite de verão

a mudança já estava todo planejada. mas no decorrer do dia, descobriu que não era sozinha que iria viver. iria chegar mais três pessoas, duas dividindo o mesmo quarto. não era mais como da última visita. o armário era maior, com portas corrediças e um rodapé como antiga moradia de ratos. o piso de assoalho retangular, a luz amarela do entardecer. tudo parecia refletir o calor.
"- Não olhe para o ventilador, ele não funciona" disse o rapaz de rabo de cavalo de olhar astuto, mas um pouco medroso. deixou as malas e saiu para se refrescar.
não sabia bem como todos caberiam ali. uma cama de casal, três pessoas.
a terceira parecia ser a mais nova de todas. tinha a mesma idade, 26, mas seus cabelos e trejeitos anunciavam bem menos idade. Ficava a pular pela casa, junto com a outra moradora. não sei bem como era essa última.
olhei para a janela. eram duas camadas de vidro, a que dividia o espaço externo estava quebrada. transparecia a desolação de uma antiga fábrica enferrujada, com grande parte de suas armações inundadas. esse quarto ficava suspenso em um grande lugar com um posto elevado. era como o poço do clube anhanguera, que conhecia quando criança.
subiu as escadas e na parte de cima havia aulas de natação.
"- Somente para a terceira idade" disse o guia.
a partir daí, iniciou-se uma fuga. uma das partes da casa tinha o teto tão baixo, e uma areia fina, que era impossível permanecer de pé.
*
o pé direito doeu. ao olhar para ele, não era mais a rachadura de sempre que estava lá. havia um grande buraco. cheiro de terra e umidade, pequenos, mas inúmeros ramos adentravam a sola. podia puxar um dos galhos, mas a surpresa em ver as raízes foi tanta que o medo a impeliu de puxar. parecia que se puxasse, iria doer, arrancar um pedaço de seu próprio pé. as raízes estavam a mostra e a escuridão transparecia uma imensa profundidade. tudo muito orgânico. um pé que agora transparecia os pequenos galhos que agora talvez insistissem em ir para outro lugar.
*
enquanto isso, dormia. no fundo duas camadas de som. o chacolhar do ônibus e o assobio do cobrador, cantando levemente uma canção desconhecida.

problemas de linguagem

ele disse: olvide essa mujer
ela entendeu: ouça essa mulher

mas olvidar não era ouvir. era esquecer.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

revisitando Sokúrov

“Como nasce esse rio?
De onde sai esse rio?
Esse rio sai de mim.
Eu vou morrer, talvez em breve,
talvez não, mas a corrente
continua existindo.”

Alexandr Sokúrov

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

futuro.

alguns pensamentos crescem mais maduros e certeiros conforme o tempo. voltar para casa com um sorvete, acreditando que a decisão foi, de fato, certeira. porque se não fosse, dificilmente você se sentiria tão feliz e satisfeita.
já não acho mais, como há dois anos, que uma cidade pode mudar minha vida. que os erros e vícios em São Paulo, fazem parte de um lado incompleto, perhaps, infeliz. que, talvez, exista essa satisfação em manter o ponto de equilíbrio em buscar o que de fato se acredita, saindo da zona de conforto. calmamente. sem grandes alardes. deixar que a ansiedade passe. deixar que o medo passe. para simplesmente encarar tudo com certeza.
um pequeno grande passo, titubeante, mas para frente.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

mancha.

tenho uma marca na minha mão direita. ela diz que o erro passado ainda é presente.