quinta-feira, 31 de maio de 2012

conto da madrugada

aquela cidade continha um outro tipo de realidade noturna. nas avenidas largas, pessoas caminhavam no forte sol pela tarde. a mulher do iogurte andava só pelas ruas, sempre com seu chapéu florido. os lençóis secavam em uma hora. nos bares, aposentados tomando cerveja, olhando o trânsito canino. ao entardecer tudo mudava. as cores se revestiam de um silêncio soturno. era como, recolhidas nas casas, dificilmente as pessoas se atrevessem a sair. os que arriscavam, corriam e eram responsáveis pelos riscos. aconteceu de uma noite, ouvir alguém gritando. ininteligível. pensou talvez que, o homem que atacou e mordeu 80% do rosto do norte-americano estivesse voltado de algum lugar que não pertencesse. olhei da janela, sem camisa, caminhava e gritava como se rosnasse a um dono furioso. ninguém ouviu, estavam todos dormindo. não sabendo se era mesmo isso o que tinha presenciado, resolvi escrever esse pequeno testemunho, do homem que gritava sempre a mesma coisa e que caminhava pelas ruas como se fosse seu dono.

terça-feira, 29 de maio de 2012

entre músicas

o afeto durou até o pôr-do-sol.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

o riso salva

da procrastinação. [palavra descoberta hoje]

domingo, 20 de maio de 2012

ellos no se conocían

assim, esqueci seu sobrenome em uma madrugada de inverno.

desses dias corridos

a visita de L. da calmaria e quase certeza anterior: focar, fechar, concentrar, isolar. funcionou um único final de semana do mês de maio. depois dispersou-se e vieram outras revelações. de não gostar muito de poesia. alejandra pizarnik e um choro copioso. estar na floresta sobre a som e a imagem dos cascos de cavalo sobre a areia. quebrar o ciclo das aulas e dos vícios, mesmo por um dia. do medo de não lançar-se. envio às 23:58. trabalho enviado com sucesso. coração na mão. no mapa astral: inconstância, a segurança não virá agora, talvez bem velhinha. escorpião ao cubo, auto-destrutiva, canalizar as forças nas artes. lua puxada para a família, presença forte do pai. suco pela manhã. conversa deitadas em uma relva de cobertor. francês e espanhol entrelaçando-se em linguagem. tanto amor. compreensão depois de tanto tempo. sólo tengan relación con los que aman. ida a sp. trânsito, frio, chuva. xingu. corte de cabelo, melhor. gravidez, casa da lapa refúgio. m. preocupação, susto. retorno a c. com gripe. pensamento em galícia e d. entorpecimento.

domingo, 6 de maio de 2012

futuramente desgraçado.

será que mudamos para tentar disfarçar o senso de mediocridade ao qual a vida está fadada? serão poucos os escolhidos. manter essa ilusão própria da escolha, é adiar um futuro terrivelmente deprimente.

douleur exquise

querida Sophie,

ontem fez um ano que senti uma das maiores dores da minha vida. estava em B. e me despedia da pessoa que estava apaixonada. acho que no fundo sabia que nunca mais o veria novamente. mas difícil ver por entre as lágrimas, naquele momento em que passava minhas botas pela esteira e tentava caminhar para o vôo.

achei que a volta seria mais fácil que o dia em que também nos despedimos em G., e chovia tanto que não podia ver nada pelo vidro do carro. acho que essas dores sempre passam por esse tipo de cegueira branca.

um ano e um dia.
e com o tempo, o mais ou menos se torna excelente, a paixão em um sonho passado, as solidões próprias em nostalgia.

Para você, o que significa independência?

urgência. pode-se admirar a beleza do fogo. mas é preciso se queimar. sempre foi possível produzir com o que se tem. do it yourself. não é ser livre de algo. mas descobrir para que fim se é livre. todo ato estético é político e ético. por menor que seja, sendo espontâneo, afirma verdades mais reveladoras e explosivas do que quaisquer sistemas estabelecidos. [entrevista de Marcellvs L.]