sábado, 20 de novembro de 2021

36

acho que foi em um mangá ou anime que eu tinha um diálogo sobre o gosto de sakê. quando ele não estava bom, era por um problema interno, como se algo pessoal interferisse no prazer de experimentar uma bebida quente no inverno. penso sempre que o consumo, os desejos materiais, fetichistas, infiltram-se nesse momento, quando as forças externas do capital dão a falsa esperança da recuperação de um fragmento perdido da alma.

recentemente fiz 36 e finalizei o doutorado. quando comecei, tinha 31 e parecia que ao terminar iria chegar com definições melhores e maturidade intelectual. parte se realizou, e, acredito que escrevi uma boa tese, como almejado. mas, enfim, espera. incerteza. foi difícil chegar a esse fim, mas o horizonte parece ser apenas um vislumbre turvo. não é bem um etarismo que me preocupa.

escrevo para organizar o pequeno tornado interno. ele ganha força de tempos em tempos, e, hoje, mistura-se com um tique-taque do relógio biológico, uma busca por uma casa, a procura de não me tornar uma pessoa rancorosa. grandezas distintas que são atravessadas, acumuladas de modo inesperado.

na quarentena a gente já tinha sentido isso, essa dureza do tempo e das experiências. arte, música, literatura ainda nos salvam dessas armadilhas.