quarta-feira, 26 de outubro de 2011

para ler: a alma encantadora das ruas

"o guia suspende a cortina e nós entramos numa sala quadrada, em que cerca de dez chins, reclinados em esteirinhas diante das lâmpadas acesas, se narcotizam com o veneno das dormideiras. A cena é de um lúgubre exotismo. os chins estão inteiramente nus, as lâmpadas estrelam a escuridão de olhos sangrentos, das paredes pendem pedaços de ganga [tecido de algodão] rubra com sentenças filosóficas rabiscadas a nanquim"

João do Rio (1881-1921)

sábado, 22 de outubro de 2011

não há metafisica que sustente-se

em um momento de descanso de ler los ejercicios del ver, sentada, vejo em uma parte do meu hemisfério ocular certo movimento próximo ao teto. coloco os óculos, e para o meu terror, esse ser, enorme, encontra-se mexendo as antenas. estático parece estar observando meus movimentos. movo-me apressada para um canto, na esperança que ele permaneça sua imobilidade. ainda olhando para cima, tento lembrar aonde deixei o inseticida que agora parece ser minha esperança. mas, vassoura ou inseticida? queria poder chamar alguém para evitar o conflito, tercerizar o terror de imaginá-lo voando pelo teto (ou pior, em minha direção) ou adentrando as gavetas com inúmeros apetrechos que poderiam favorecer sua fuga.
preciso dos dois, vassoura e inseticida, mas isso não é possível estando só. chamo minha mãe, que por sorte, está essa noite em casa. ainda sonolenta, ela avista a mancha amarronzada que encontra-se no mesmo lugar do teto. elaboramos rapidamente um plano. corro para o lado, fecho todas as gavetas, recolho as roupas próximas, e, depois de um centésimo de segundos hesitantes, pressiono a válvula do spray. com os jorros mortais, ele corre para um lado, até que cai em direção a porta. o inseticida é insistente e com a pressão, empurra-o para o chão, aonde o golpe mortal é desferido diversas vezes por uma vassoura. ele, produtor então de todo terror, esparrama-se com seus pedaços mutilados, agora inertes para sempre.

e por mais engraçado que tudo pode parecer agora, o sentimento no momento era de terror. por que algo tão pequeno é passível de provocar tanto medo? sua imprevisibilidade nos movimentos, o nojo de sua origem ou o fato de algo herdado culturalmente? se não fosse por isso, talvez A Paixão Segundo G.H não teria sido escrita por Clarice. não é a toa que a personagem defronta-se com uma barata.

"Só parei na minha fúria quando compreendi com surpresa que estava desfazendo tudo o que laboriosamente havia feito quando compreendi que estava me renegando. E que, ai de mim, - eu não estava à altura senão de minha própria vida."

A Paixão Segundo GH / Clarice Lispector.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

sonhos

ando sonhando muito. cada vez mais, eles deixam a forma de símbolos e se tornam mais diretos. hoje, pela manhã, lembrei-me o que aquela figura, com o mesmo nome de D. dizia. acabou, e eu teria que seguir em frente em uma nova terra, em um outro lugar.

sábado, 15 de outubro de 2011

Saint-Exupéry

"Creio que ele se aproveitou de
uma migração de pássaros
selvagens para evadir-se"

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

de Madadayo, Kurosawa-san:

"Gostaria de lhes dizer para encontrar alguma coisa de que realmente gostem. Encontrem algo que sejam capazes de amar de verdade. E quando encontrarem, lutem com todas as forças que tiverem, pelo seu tesouro. E assim vocês terão o tesouro pelo qual lutaram. E irão adquirir o hábito de abraçar as coisas de coração. Este é o verdadeiro tesouro.

domingo, 9 de outubro de 2011

de 2006

Acredite-me, quando essa brincadeira estiver cansada do riso.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

3 de outubro

e agora me diz o que eu faço. quando um telefone desmorona o pequeno castelo feito de sonhos passados, e nada, mas nada, faz mais sentido.