domingo, 16 de dezembro de 2012

tão esperada, Sofia

no dia em que Sofia nasceu, segui uma rodovia conhecida. porém, a continuação para chegar ao destino, desembocava em algo que eu não tinha nenhum conhecimento. * ainda não sei o que dizer: era uma quarta-feira extremamente quente. acabava de sair de uma reunião com o homem dos lábios ranzinzas, levemente arrasada. dor-de-cabeça do conhaque. * unhas, pés inchados. trânsito. madrugada vagarosa, arrastando suas patas por entre as salas do dia doze do doze de dois mil e doze. tantas cesárias idiotamente programadas. * ela é tão pequenina. e até o seu choro é doce. (embora eu diga que ela vire um maracujá azedo)

demasiado tarde.

e o fogo consumiu todas aquelas fotos e cartas e ilusões. tirou a cruz das costas que havia colocado pela própria vontade. o fogo resistia, mas a vontade de resumir tudo ao pó era extremamente forte. * ficou por muito tempo com a nódoa no peito.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Marcel Marceau

‎"Yo practico el mimodrama del silencio y sólo doy gritos de silencio, algo muy difícil de hacer en un mundo donde todos hablan como metralletas (...)"

sábado, 1 de dezembro de 2012

Huysman, a melancolia e seus lugares.

Pode-se dizer que Delphine é uma personagem apanhada no que Huysmans chamou melancolia. “A vítima da melancolia mantém com o espaço a mais dolorosa das relações. Ou lhe falta espaço, ou o espaço lhe sobeja. Tem horror à finitude dele, mas a sua infinitude aterroriza-a da mesma maneira. Daí a busca melancólica das viagens e das distâncias: ao desorientado, as viagens prometem um fim, aos cativos uma evasão.” Talvez seja por isso que, entre uma segunda-feira, 2 de Julho, e uma segunda-feira, 6 de Agosto, Delphine tanto procure nas viagens o que quer e não sabe o que é. Encontros extraordinários só tem três: ainda em Paris, no Museu Guimet, uma estátua antiga de um atleta nu. Uma amiga mete-se com ela: “Do que tu precisas, é de um homem assim: bonito e sujo”. Bonito e sujo? O segundo encontro extraordinário dá-se em Cherbourg. Num dos seus passeios erráticos, encontra, caída no chão, uma carta de Tarô. Volta-a e é a Dama de Espadas. Não é muito usual encontrarem-se cartas dessas caídas no meio do chão. aqui: http://focorevistadecinema.com.br/FOCO1/benard-raioverde.htm

terça-feira, 27 de novembro de 2012

27.11 - 1:19h

não sei bem. quero não escrever, mas está difícil compreender tudo. - pequenas violências simbólicas. - impotência. - quero entrar, mas como? - medo de estar para sempre sozinha. - de não realizar nada. - sinto falta dos meus amigos. de afeto.

sábado, 24 de novembro de 2012

reflexões com a chuva

a academia é uma espécie de prisão voluntária.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

da janela do meu quarto

as três marias. um avião que pisca na negritude do céu. luzes vermelhas piscando. três árvores riscadas por três fios de eletricidade. chacoalham ao vento. já não estão mais com as flores amarelas nas pontas. um vento refresca. um samba ao fundo. os ronronares das motos.

domingo, 18 de novembro de 2012

sonho #2

foram a um bar com uma vegetação estrondosa. o rapaz que sentou na ponta (o caixa da lanchonete do ifch), saiu com uma moça. todos saíram. fumou um cigarro. dependurou-se no poste de luz, que era flexível como um cipó. alegria em ir para lá e para cá. ao descer, nos pés terra. era uma floresta e nela um parque de diversões sobre ecologia. tentou passar para alcançar o boneco azul que tinha doce e era bonzinho. foi parada por outro boneco que mandou seguir o trajeto do trem do parque, - se perdesse o jogo, seria devorada por ele (onde moram os monstros?). quase seguiu os trilhos sozinha, não havia nenhum operador. uma escola de criança primária apareceu. letícia (file-2011), demorou para aparecer e colocar o trem nos trilhos. disse que eu tinha tido um longo dia, garçonete, bar, cipó. na cadeira do trem, brincadeirinha de um túnel amaldiçoado. desci, o grupo Corpo começou a dançar em uma sala de espelhos muito grande, larga. duas coreografias. me estiquei em um elástico, ensaiei uma dança. saí, voltei para o lugar aonde todos partiram. comi um salgado. não lembro mais o resto.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

das coisas que a gente faz para não sentir-se tão sozinha

- verifica o email/facebook de hora em hora. - dorme, fecha os olhos esperando uma outra e melhor realidade.

domingo, 4 de novembro de 2012

carta de Bukowski ou os meus dias de garçonete

8-12-86 Hello John: Thanks for the good letter. I don’t think it hurts, sometimes, to remember where you came from. You know the places where I came from. Even the people who try to write about that or make films about it, they don’t get it right. They call it “9 to 5.” It’s never 9 to 5, there’s no free lunch break at those places, in fact, at many of them in order to keep your job you don’t take lunch. Then there’s OVERTIME and the books never seem to get the overtime right and if you complain about that, there’s another sucker to take your place. You know my old saying, “Slavery was never abolished, it was only extended to include all the colors.” And what hurts is the steadily diminishing humanity of those fighting to hold jobs they don’t want but fear the alternative worse. People simply empty out. They are bodies with fearful and obedient minds. The color leaves the eye. The voice becomes ugly. And the body. The hair. The fingernails. The shoes. Everything does. As a young man I could not believe that people could give their lives over to those conditions. As an old man, I still can’t believe it. What do they do it for? Sex? TV? An automobile on monthly payments? Or children? Children who are just going to do the same things that they did? Early on, when I was quite young and going from job to job I was foolish enough to sometimes speak to my fellow workers: “Hey, the boss can come in here at any moment and lay all of us off, just like that, don’t you realize that?” They would just look at me. I was posing something that they didn’t want to enter their minds. Now in industry, there are vast layoffs (steel mills dead, technical changes in other factors of the work place). They are layed off by the hundreds of thousands and their faces are stunned: “I put in 35 years…” “It ain’t right…” “I don’t know what to do…” They never pay the slaves enough so they can get free, just enough so they can stay alive and come back to work. I could see all this. Why couldn’t they? I figured the park bench was just as good or being a barfly was just as good. Why not get there first before they put me there? Why wait? I just wrote in disgust against it all, it was a relief to get the shit out of my system. And now that I’m here, a so-called professional writer, after giving the first 50 years away, I’ve found out that there are other disgusts beyond the system. I remember once, working as a packer in this lighting fixture company, one of the packers suddenly said: “I’ll never be free!” One of the bosses was walking by (his name was Morrie) and he let out this delicious cackle of a laugh, enjoying the fact that this fellow was trapped for life. So, the luck I finally had in getting out of those places, no matter how long it took, has given me a kind of joy, the jolly joy of the miracle. I now write from an old mind and an old body, long beyond the time when most men would ever think of continuing such a thing, but since I started so late I owe it to myself to continue, and when the words begin to falter and I must be helped up stairways and I can no longer tell a bluebird from a paperclip, I still feel that something in me is going to remember (no matter how far I’m gone) how I’ve come through the murder and the mess and the moil, to at least a generous way to die. To not to have entirely wasted one’s life seems to be a worthy accomplishment, if only for myself. yr boy, Hank (+) http://www.lettersofnote.com/2012/10/people-simply-empty-out.html

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

para L.

querida L, essa foi uma reflexão que tem me acompanhado nos últimos dias. tenho me sentido muito bonita. ao contrário do que minha mãe e irmã insistem, acho que não tenho mais o mesmo semblante juvenil. logo mais completo 27 anos e novamente não sinto a idade que tenho. parece um peso carregar essa idade. parece que já deveria ter mais coisas definidas do que hoje tenho. parece que retrocedi neste ano que ainda passa. mas, das pequenas mudanças tenho me concentrado em usar mais as lentes de contato. com elas descobri de repente que tenho um rosto. não mais a máscara azul a que ele ficava por trás. com as lentes, descobri também minhas orelhas. e brincos longos que não brigam mais com a máscara. meus cabelos cresceram. com eles a manifestação também do tempo. hoje trouxe a descoberta de sair com uma mochila leve. sem o peso nos ombros, tenho a impressão o quanto de inutilidade tenho carregado para a minha vida. na tentativa de parecer séria, responsável, tornei-me escrava da minha sisudez. te contei que estou trabalhando alguns dias dos mês como garçonete em um bar de rock? pois é engraçado que me sinto extremamente bem. no sentido de ter feito algo que não preciso, mas que faz minhas pernas doerem e pensar um pouco menos naquilo que me cerca. acho que posso me apaixonar pelo moço de barba. tem um olhar difícil de dizer. esse é meu primeiro escrito secreto compartilhado. espero que tenha tempo para ler. saudades muitas. com amor, C.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

mar me quer

"os olhos de quem amamos são um barco". Mia Couto.

pousou nos olhos

naquele inverno, pousou nos olhos a melancolia. não era porque fazia frio e nevava. naquele inverno algo recobriu a membrana com uma simples camada. independente do clima e das estações, a visão e o coração retomavam o sentimento.

domingo, 26 de agosto de 2012

Camille Claudel

"il y a toujours quelque chose d'absent qui me tourmente" Camille Claudel - lettre a Rodin, 1886

sábado, 25 de agosto de 2012

Amélie Nothomb

"Tuas emoções serão tuas dinastias"

fragmentos de um discurso amoroso - Barthes

5. Sustento ao infinito, para o ausente, o discurso de sua ausência; situação em suma inaudita; o outro está ausente como referente, presente como alocutário. Dessa distorção singular, nasce uma espécie de presente insustentável: fico acuado entre dois tempos, o tempo da referência e o tempo da alocução: você partiu (do que estou me queixando), você está aqui (já que me dirijo a você). Conheço então o que é o presente, este tempo difícil: um puro pedaço de angústia. A ausência dura, preciso suportá-la. Vou portanto manipulá-la: transformar a distorção do tempo em vai-e-vem, produzir ritmo, abrir a cena da linguagem (a linguagem nasce da ausência: a criança fabricou um carretel, joga-o e apanha-o, mimando a partida e a volta da mãe: um paradigma foi criado). A ausência torna-se uma prática ativa, um atarefamento (que me impede de fazer qualquer outra coisa); cria-se uma ficção com múltiplos papéis (dúvidas, recriminações, desejos, melancolia). Essa encenação linguareira afasta a morte do outro: um momento brevíssimo, dizem, separa o tempo em que a criança ainda crê que a mãe está ausente e o tempo em que já a crê morta. Manipular a ausência é alongar esse momento, retardar tanto quanto possível o instante em que o outro poderia resvalar secamente da ausência para a morte. [Winnicott]

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Saint-Exupéry

"Creio que ele se aproveitou de uma migração de pássaros selvagens para evadir-se"

domingo, 15 de julho de 2012

Belo Horizonte

a solidão torna-se quase palpável quando o referencial vem de um casal outro. a tecnologia abafa o silencio de estar só.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

inspiracao

aqui: http://sobreluzesepaisagens.wordpress.com/author/casadevir/ a casa deVir é um ateliê de paisagens. vivemos a casa como um lugar de invenção: na criação e produção de encantamentos diários trabalhamos para revelar luzes e paisagens

domingo, 24 de junho de 2012

carta para o tempo.

querido Makoto, como vai? estive nesse últimos meses tão próxima de escrever para você. mas me obriguei um prazo de cinco anos de absoluto silêncio. talvez esse tempo seja suficiente para que as mudanças sejam profundas e nenhum dos meus atos reverbere qualquer forma de lembrança ou nostalgia. esse ano de 2012, serão dois anos de ruptura. faltam mais três. queria dizer que agora o compreendo. ao menos, um pouco dos conflitos e o sentimento que era estar em botucatu. faz sete anos que estive lá com você, tanto tempo. a idéia de uma universidade longe, estar só, os convívios. minha situação agora é diferente, não estou na graduação, mas acho que entendo um pouco desse ir e voltar. assim como foi botucatu - arujá, arujá - são paulo. agora posso dizer, pela primeira vez, que vivo só. o sentimento de vida dupla é inevitável. são paulo é meu lar, mas a competição, ambição, falta de valores me faz agora detestar. ainda não sei bem me posicionar, sei apenas que acho que tenho capacidade de estar um bom tempo só. isso me faz acreditar que posso morar em qualquer lugar do mundo. essa semana forjei um sonho. viver um ano no japão. foi o tempo que você permaneceu. lugar longe o bastante para não ter esse conflito de voltar constantemente. é uma pena a crise estar tão forte, espero que depois do mestrado possa ir. sei que você casou. será que tem filhos? das minhas memórias, lembro de você dizer, enquanto fazia pipoca com hondashi, que poderia se orgulhar disso para seu filho, que saberia fazer bem pipoca. será que ele vai gostar de hondashi? tão estranho acessar essa memória. ao mesmo tempo, parece que nunca existiu, mas passamos cinco anos juntos. cinco anos é um tempo significativo, não? cinco anos de convivência, cinco anos de esquecimento. se o desejo for forte o suficiente, vou escrever quando estiver aos 30 anos. data tão assustadora. estou lendo os emails antigos. é curioso. dá saudade de estar apaixonada. mas ao mesmo tempo é tudo sem sentido e levemente idiota. dos rumos da sua vida, penso também se você seguiu os caminhos do seu pai. eis uma carta para o tempo. K.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Idea della

Estudo e espanto (studiare e stupire) são, pois, aparentados nesse sentido: aquele que estuda encontra-se em estado de quem recebeu um choque e fica estupefato diante daquilo que o tocou, incapaz, tanto de levar as coisas até o fim, como de se libertar delas. Aquele que estuda fica, portanto, sempre um pouco estúpido, atarantado. Mas, se por um lado ele fica assim perplexo e absorto, por outro lado, a herança messiânica que ele traz consigo incita-o incessantemente a prosseguir e concluir. Esta festina lente, esta alternância de estupefação e lucidez, de descoberta e de perda, de paixão e ação, constituem o ritmo do estudo. AGAMBEN, Giorgio. Idea della prosa. Milão: Feltrinelli, 1985. [Nova edição: Macerata: Quodlibet, 2002]. p. 53.

sábado, 2 de junho de 2012

carlinhos

faz doze anos que o conheço. quase o mesmo tempo da minha amizade mais antiga. acho que de início ele sentiu-se atraído pela minha juventude. eu por sua vivência. de algum jeito o acho ríspido, mas não deixo de me fascinar. acho que se estivéssemos juntos por alguns dias, dificilmente haveria a conversa que a escrita propicia. queria encontra-lo. ouvir o som de sua voz. lembro de seu pijama vermelho, o camel sem filtro e o whisky. rememorando o baú da memória, lembro de me falar da sua psicóloga. e o fato de tê-la achado atraente e depois terem dormido juntos. será que um dia irei vê-lo novamente?

quinta-feira, 31 de maio de 2012

conto da madrugada

aquela cidade continha um outro tipo de realidade noturna. nas avenidas largas, pessoas caminhavam no forte sol pela tarde. a mulher do iogurte andava só pelas ruas, sempre com seu chapéu florido. os lençóis secavam em uma hora. nos bares, aposentados tomando cerveja, olhando o trânsito canino. ao entardecer tudo mudava. as cores se revestiam de um silêncio soturno. era como, recolhidas nas casas, dificilmente as pessoas se atrevessem a sair. os que arriscavam, corriam e eram responsáveis pelos riscos. aconteceu de uma noite, ouvir alguém gritando. ininteligível. pensou talvez que, o homem que atacou e mordeu 80% do rosto do norte-americano estivesse voltado de algum lugar que não pertencesse. olhei da janela, sem camisa, caminhava e gritava como se rosnasse a um dono furioso. ninguém ouviu, estavam todos dormindo. não sabendo se era mesmo isso o que tinha presenciado, resolvi escrever esse pequeno testemunho, do homem que gritava sempre a mesma coisa e que caminhava pelas ruas como se fosse seu dono.

terça-feira, 29 de maio de 2012

entre músicas

o afeto durou até o pôr-do-sol.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

o riso salva

da procrastinação. [palavra descoberta hoje]

domingo, 20 de maio de 2012

ellos no se conocían

assim, esqueci seu sobrenome em uma madrugada de inverno.

desses dias corridos

a visita de L. da calmaria e quase certeza anterior: focar, fechar, concentrar, isolar. funcionou um único final de semana do mês de maio. depois dispersou-se e vieram outras revelações. de não gostar muito de poesia. alejandra pizarnik e um choro copioso. estar na floresta sobre a som e a imagem dos cascos de cavalo sobre a areia. quebrar o ciclo das aulas e dos vícios, mesmo por um dia. do medo de não lançar-se. envio às 23:58. trabalho enviado com sucesso. coração na mão. no mapa astral: inconstância, a segurança não virá agora, talvez bem velhinha. escorpião ao cubo, auto-destrutiva, canalizar as forças nas artes. lua puxada para a família, presença forte do pai. suco pela manhã. conversa deitadas em uma relva de cobertor. francês e espanhol entrelaçando-se em linguagem. tanto amor. compreensão depois de tanto tempo. sólo tengan relación con los que aman. ida a sp. trânsito, frio, chuva. xingu. corte de cabelo, melhor. gravidez, casa da lapa refúgio. m. preocupação, susto. retorno a c. com gripe. pensamento em galícia e d. entorpecimento.

domingo, 6 de maio de 2012

futuramente desgraçado.

será que mudamos para tentar disfarçar o senso de mediocridade ao qual a vida está fadada? serão poucos os escolhidos. manter essa ilusão própria da escolha, é adiar um futuro terrivelmente deprimente.

douleur exquise

querida Sophie,

ontem fez um ano que senti uma das maiores dores da minha vida. estava em B. e me despedia da pessoa que estava apaixonada. acho que no fundo sabia que nunca mais o veria novamente. mas difícil ver por entre as lágrimas, naquele momento em que passava minhas botas pela esteira e tentava caminhar para o vôo.

achei que a volta seria mais fácil que o dia em que também nos despedimos em G., e chovia tanto que não podia ver nada pelo vidro do carro. acho que essas dores sempre passam por esse tipo de cegueira branca.

um ano e um dia.
e com o tempo, o mais ou menos se torna excelente, a paixão em um sonho passado, as solidões próprias em nostalgia.

Para você, o que significa independência?

urgência. pode-se admirar a beleza do fogo. mas é preciso se queimar. sempre foi possível produzir com o que se tem. do it yourself. não é ser livre de algo. mas descobrir para que fim se é livre. todo ato estético é político e ético. por menor que seja, sendo espontâneo, afirma verdades mais reveladoras e explosivas do que quaisquer sistemas estabelecidos. [entrevista de Marcellvs L.]

segunda-feira, 26 de março de 2012

Pina

aquele filme continha toda sua dor, força e fragilidade. lindo.

caixa de papelão

mudança no perfil. podia não significar nada, mas era óbvio que a mudança saiu do seu estágio passageiro e tornou-se definitiva. pensou que tinha até o dia 11 de setembro de 2012 para queimar tudo. mas ainda assim pensou que era uma boa camisa.

sábado, 24 de março de 2012

presente de aniversário

eu vejo essa foto, de quase há 10 anos. foi tirada, capturada e esquecida.
será que, agora, nesse resgate, encontro-me comigo ao retornar a imagem, e, consequentemente à lembrança?

quarta-feira, 21 de março de 2012

as vezes a pequenez me esmaga.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Nathaniel Hawthorne

“ Os anos, afinal, tornam-se meio vazios quando vivemos muito tempo em terra estrangeira.
Nessas circunstâncias, adiamos a realidade da vida até o momento no futuro quando poderemos novamente respirar o ar nativo.
Mas, à medida que o tempo passa, ou se eventualmente retornamos, constatamos que o ar nativo perdeu aquela qualidade revigorante.
A vida transferiu o seu lugar para onde nos considerávamos somente residentes temporários.
Assim, divididos entre dois países, acabamos sem nenhum.
Ou somente com aquele pequeno pedaço de um deles… onde, finalmente, repousamos os nossos ossos descontentes.”

domingo, 11 de março de 2012

domingo.

quando o passado revisitou os sonhos.
já estava casado quando ligou. conversaram mesmo que pouco, a ligação estava péssima
no calor que fazia acordou.
*
e um gato malhado e a andorinha sinhá fez novamente sorrir.

segunda-feira, 5 de março de 2012

cumplicidade na garagem.

elas se reunião todos os sábados e domingos. as cadeiras de plástico ao redor da mesa.
ficavam em um círculo, rindo, contando anedotas e observações da vida alheia. sempre achei essa imagem atemporal. as senhoras estariam para sempre na garagem, mesmo que, porventura, uma ou outra estivesse doente. o riso da dona da casa sempre cortava os domingos. fazia companhia ao sempre som do jogo de futebol que reverberava nas casas.
foi em uma tarde que pensei. se não tivessem umas as outras, seria muito triste o cotidiano. de toda a solidão, já bastava voltar para casa e encontrá-la vazia.

domingo, 4 de março de 2012

quinta-feira, 1 de março de 2012

de chris marker

"o passado é como o estrangeiro: não é uma questão de distância, é o cruzamento de uma fronteira"

(Chris Marker, Le Dépays)

09:12

27.2
foi recebida com uma grande ventania. a chuva acalmou um pouco do calor.
não consigo esquecer de como queima.
*
01.3 - 15:30
a unidade ficava no terceiro andar. naquela brancura do sol a pino, lá ficava ela, retumbante pelo único acesso permeado de imobiliárias e salões de beleza. subiu. mas ao chegar, apesar da placa dizer Ouvert, só estaria aberto as 17h.

bateu na porta. a impressão era que naquele grande telão, a porta iria desabar e a porta seria só a carcaça para um grande vazio. o vento da queda, mostraria que estava desabitada há tempos. a fachada desfez-se tão rapidamente.

no bebedouro, um garfo. as salas, de tão pequenas e apertadas, não poderia comportar mais de três pessoas.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

sonho de uma noite de verão

a mudança já estava todo planejada. mas no decorrer do dia, descobriu que não era sozinha que iria viver. iria chegar mais três pessoas, duas dividindo o mesmo quarto. não era mais como da última visita. o armário era maior, com portas corrediças e um rodapé como antiga moradia de ratos. o piso de assoalho retangular, a luz amarela do entardecer. tudo parecia refletir o calor.
"- Não olhe para o ventilador, ele não funciona" disse o rapaz de rabo de cavalo de olhar astuto, mas um pouco medroso. deixou as malas e saiu para se refrescar.
não sabia bem como todos caberiam ali. uma cama de casal, três pessoas.
a terceira parecia ser a mais nova de todas. tinha a mesma idade, 26, mas seus cabelos e trejeitos anunciavam bem menos idade. Ficava a pular pela casa, junto com a outra moradora. não sei bem como era essa última.
olhei para a janela. eram duas camadas de vidro, a que dividia o espaço externo estava quebrada. transparecia a desolação de uma antiga fábrica enferrujada, com grande parte de suas armações inundadas. esse quarto ficava suspenso em um grande lugar com um posto elevado. era como o poço do clube anhanguera, que conhecia quando criança.
subiu as escadas e na parte de cima havia aulas de natação.
"- Somente para a terceira idade" disse o guia.
a partir daí, iniciou-se uma fuga. uma das partes da casa tinha o teto tão baixo, e uma areia fina, que era impossível permanecer de pé.
*
o pé direito doeu. ao olhar para ele, não era mais a rachadura de sempre que estava lá. havia um grande buraco. cheiro de terra e umidade, pequenos, mas inúmeros ramos adentravam a sola. podia puxar um dos galhos, mas a surpresa em ver as raízes foi tanta que o medo a impeliu de puxar. parecia que se puxasse, iria doer, arrancar um pedaço de seu próprio pé. as raízes estavam a mostra e a escuridão transparecia uma imensa profundidade. tudo muito orgânico. um pé que agora transparecia os pequenos galhos que agora talvez insistissem em ir para outro lugar.
*
enquanto isso, dormia. no fundo duas camadas de som. o chacolhar do ônibus e o assobio do cobrador, cantando levemente uma canção desconhecida.

problemas de linguagem

ele disse: olvide essa mujer
ela entendeu: ouça essa mulher

mas olvidar não era ouvir. era esquecer.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

revisitando Sokúrov

“Como nasce esse rio?
De onde sai esse rio?
Esse rio sai de mim.
Eu vou morrer, talvez em breve,
talvez não, mas a corrente
continua existindo.”

Alexandr Sokúrov

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

futuro.

alguns pensamentos crescem mais maduros e certeiros conforme o tempo. voltar para casa com um sorvete, acreditando que a decisão foi, de fato, certeira. porque se não fosse, dificilmente você se sentiria tão feliz e satisfeita.
já não acho mais, como há dois anos, que uma cidade pode mudar minha vida. que os erros e vícios em São Paulo, fazem parte de um lado incompleto, perhaps, infeliz. que, talvez, exista essa satisfação em manter o ponto de equilíbrio em buscar o que de fato se acredita, saindo da zona de conforto. calmamente. sem grandes alardes. deixar que a ansiedade passe. deixar que o medo passe. para simplesmente encarar tudo com certeza.
um pequeno grande passo, titubeante, mas para frente.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

mancha.

tenho uma marca na minha mão direita. ela diz que o erro passado ainda é presente.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

dos amores maiores dessa vida.

"- não diz mais tristeza, é uma palavra muito forte. é que, no fundo no fundo, quero que você se encontre e seja feliz."
"- mas você entende que essa melancolia faz parte de mim?"
chovia, dentro e fora. da mágoa guardada, recente, fez-se um grande rebento de alegria. porque nunca, mas nunca que seria possível cortar esses laços, são muitos os sentir.
é dos maiores amores da minha vida. das grande alegrias de compartilhar passado e presente. entender que estará sempre junta em um espaço que transcende pela simples felicidade da convivência.
nessa noite, uma promessa. e muito mais que o chá que esquenta após a caminhada na chuva, aquecer novamente o coração e entender que amor de irmã é sim, eterno.

sábado, 14 de janeiro de 2012

je me souviens

das catracas e a hostilidade no inverno de 2010.
*
do acordar.
a flor ainda está pendurada na cortina?

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

na maior parte do tempo, tudo perde relevância ao acordar pela manhã.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

lesmas.

[e esse mal estar nunca vai embora]

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

do trânsito

acontece assim. meio que sem perceber. novamente a idéia se fixa na cabeça e até realizá-la você acha que nada mais é possível. então existe a espera. e nessa espera enche-se de mundanices que atrapalham a razão e transforma o espírito em algo bobo e covarde. um foguinho que não aquece e nem alumia.
*
depois de ver que a esperança depositou-se novamente em outro pote, sentiu vergonha. era, talvez, desculpas. sempre as mesmas desculpas diante o momento presente.
*
difícil viver o presente quando este não quer estar em si.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

2012