O zen, com sua teoria budista da efemeridade e sua busca pelo domínio do espírito sobre a matéria, aceitou a casa apenas como um refúgio temporário para o corpo. O corpo em si era somente uma cabana no ermo, um abrigo frágil que se faz amarrando hastes de gramíneas que crescem por toda parte - e, quando as amarras se dissolviam, as hastes se decompunham no ermo original. (O aposento da cerimônia do chá - p. 77)
No aposento de chá, fica a cargo de cada conviva completar o efeito total em relação a si mesmo através da imaginação. Desde que o zen se tornou a corrente de pensamento predominante, a arte do Extremo Oriente evitou intencionalmente a simetria por considerá-la expressão não somente de completude, como também de repetição. A uniformidade de um desenho era considerada fatal para o viço da imaginação. Assim, paisagens, pássaros e flores tornaram-se temas favoritos de pinturas em detrimento da figura humana, e esta última está presente apenas na pessoa do próprio observador. (p. 80)
A apreciação estética do incompleto não teve origem no chanoyu. Mesmo no clássico Ensaios sobre a ociosidade (1331, aproximadamente) podemos encontrar a afirmação: "Em todas as coisas, a completude de todos os detalhes não é desejável; aquilo que é deixado simplesmente inacabado prende o interesse". (Posfácio de Hounsai Genshitsu Sen - p. 135)
OKAKURA, Kakuzo. O livro do chá. São Paulo: Estação Liberdade, 2008.
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