terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

escritos de amor entre artistas

"O sol nasce no oriente. O cordão umbilical do dia é queimado a incenso e pólvora.

O que ela quer ninguém sabe. Nem mesmo ela saberia dizê-lo. Isso às vezes a faz sofrer, às vezes a liberta. Dizer de seu desejo, justificar suas intenções.
(...)
Em Hume, o conhecimento é adquirido através do hábito e da observação – a percepção diária do movimento do sol durante o ano pela projeção da sombra de um arbusto no parapeito da janela. Mas e se fossemos um pouco alem do mero conhecimento objetivo e começássemos a observar apenas as linhas e as formas das coisas? E se nos habituássemos a olhar o mundo de uma forma ausente de objetividade porém plena de expressividade? E se começássemos a adquirir o hábito de nos esquecermos diariamente de nós mesmos e de passarmos a existir como rastro e resíduo junto às migalhas de pão, às pétalas secas, no encalço de formigas?
(...)
Tarde da noite ela fala de pequenas mortes. Ela fala de pequenas mortes ao mesmo tempo em que adormece. Um dia morre com ela levando seus rastros para os sonhos. Isso às vezes a faz sofrer, às vezes a liberta."

Cao Guimarães, em 1997, para Rivane Neuenschwander

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