sexta-feira, 19 de outubro de 2012

para L.

querida L, essa foi uma reflexão que tem me acompanhado nos últimos dias. tenho me sentido muito bonita. ao contrário do que minha mãe e irmã insistem, acho que não tenho mais o mesmo semblante juvenil. logo mais completo 27 anos e novamente não sinto a idade que tenho. parece um peso carregar essa idade. parece que já deveria ter mais coisas definidas do que hoje tenho. parece que retrocedi neste ano que ainda passa. mas, das pequenas mudanças tenho me concentrado em usar mais as lentes de contato. com elas descobri de repente que tenho um rosto. não mais a máscara azul a que ele ficava por trás. com as lentes, descobri também minhas orelhas. e brincos longos que não brigam mais com a máscara. meus cabelos cresceram. com eles a manifestação também do tempo. hoje trouxe a descoberta de sair com uma mochila leve. sem o peso nos ombros, tenho a impressão o quanto de inutilidade tenho carregado para a minha vida. na tentativa de parecer séria, responsável, tornei-me escrava da minha sisudez. te contei que estou trabalhando alguns dias dos mês como garçonete em um bar de rock? pois é engraçado que me sinto extremamente bem. no sentido de ter feito algo que não preciso, mas que faz minhas pernas doerem e pensar um pouco menos naquilo que me cerca. acho que posso me apaixonar pelo moço de barba. tem um olhar difícil de dizer. esse é meu primeiro escrito secreto compartilhado. espero que tenha tempo para ler. saudades muitas. com amor, C.

2 comentários:

  1. mInha c,

    quero te ver de cabelos longos e brincos compridos. que bom que haja um trabalho que faça tuas pernas doerem. e ah como eu gosto dos homens de barba. pois eu tenho usado menos brincos, ultimamente. perdi muitos dos meus. e durante a viagem me senti estranhamente masculina, em muitos momentos. a moça que me recebeu em berlim não me via desde 2010 e disse que eu estou mais andrógina - fiquei feliz. acho que tudo isso tem a ver com a paixão por e. mas estava me sentindo menos bonita e isso doeu. agora está passando, aos poucos estou me sentindo melhor com meu corpo à medida em que aprendo a andar de muletas. quando eu te encontrei em campinas eu já tinha te falado, não foi, da sensação de estar sem rosto, da identidade como algo que se faz e desfaz? senti uma tristeza tão imensa e incontrolável ao chegar na casa dos meus pais -'descobri que minha adolescência doía ainda mais do que eu pensava. por enquanto ainda não posso sonhar com estradas, mas estou aceitando tudo um pouco mais. o esteban disse que vem para cá me ver no começo de novembro! eu vou enlouquecer de tanta felicidade. a gente continua se escrevendo todos os dias

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    1. ah, teus 27 anos... os anos só são um peso se a gente deixar. o que é ter algo definido? acho que isso não existe. a vida é tão imprevisível e a gente é tão frágil. um jogo entre as histórias que a gente inventa e o vento, que vem de quando em quando nos bagunçar os cabelos e derrubar nossos castelos de cartas. por isso, ninguém nos tira o direito de começar tudo de novo, deixar algo para trás, inventar o que quiser.

      sempre ouço aquela música sweet nuthin', do velvet underground. no fundo a gente não tem nada mas isso também pode ser doce.

      saudade de você.

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