quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

rio de janeiro, 7 de dezembro de 2017.

#1 escrevo por estar longe de você. porque quando ao lado, é muito difícil ter os pensamentos como os que tive hoje. parece, de alguma forma, que a falta de filtro e a fluidez da sua companhia deixa tudo meio nebuloso. no olhar interno, digo. e claro que sinto sua falta. fez agora um ano que acordar ao seu lado me faz feliz. o modo como você pega a minha mão e a beija pela manhã. eu comecei a fazer isso também, porque suas mãos são tão bonitas, que seria quase um desaforo que só as minhas cantassem em uníssono e as suas ficassem sem esse gesto de expressão tão significativo.

#2 na livraria, quase há pouco. queria ter um caderninho para que pudesse olhar com mais atenção meus sentimentos naquele momento. tinha um lançamento de um livro, com coquetel e pessoas fazendo fila para o autógrafo. acho que o título fazia referência sobre o Brasil e a Namíbia. eu entrei deslocada, mas isso me acompanhou quase todo o dia. folheei Sebald, e pensei em Carolina. olhei Emily Dickinson e era Juliana ao lado de Diego, com Cohen. olhei os dois e pensei se valeria ou não a aquisição. pensei que precisava de literatura inglesa, para fazer jus a sensação de deslocamento que estava tendo desde que a Ia foi embora pela manhã. o museu do silêncio ainda não reverberava e precisava realmente sentir as palavras de outro modo. sair de mim. mas não era o tipo de imersão fílmica que eu precisava. dali da livraria, depois de comprar Bolaño em inglês, tomei uma soda no café do mezanino. é uma bela livraria, sem aquelas frases deslocadas que ultimamente todos os lugares gostam de estampar nos vidros e nas paredes. até a pastelaria perto de casa colocou Fernando Pessoa, na parede branca inundada pelo cheiro e a gordura do óleo. ao lado a direita, um rapaz falava para uma garota sobre seguros. a esquerda, dois homens e uma garota comentaram sobre Villa-Lobos. naquela inexatidão toda, derrubei soda no livro que acabava de comprar. melhor fechar e olhar para o celular, falar com D. que estava todo dia virtualmente ao meu lado. postar uma foto no stories também parecia, em algum momento, importante para registrar o dia. antes, talvez não me sentisse tão vulnerável tecnologicamente, mas também acho que depois de tanto tempo de flanagem, tudo cansa um pouco, e já não tem mais o verniz da novidade. ultimamente tenho gostado de viajar acompanhada, desde que intercale de alguma forma como esses momentos como hoje.
voltando. ao ver todos aqueles autores, pensando sobre o ano (até o spotify trouxe a retrospectiva das músicas mais ouvidas), pensei em como seria bacana ter um livro de literatura publicado. não como o da Alameda, acadêmico, mas algo que trouxesse para a superfície essas percepções diárias em forma de ficção. voltei um pouco a adolescência em imaginar como gostaria de ser quando crescer. de certa forma, já estava tudo ali. eu. minha carreira. aspirações e gostos que ultimamente tem mudado tanto. mas acho que é um projeto importante para a próxima década. se algo tem aparecido com frequência, é o desejo da escrita. mas para isso, escrever, escrever, até fazer algo diferente. talvez o blog ajude na difícil tarefa de escrever em não primeira pessoa.

#3 na praia. sempre fico impressionada em quanto água os nossos olhos podem perceber. a água estava fria, com muita correnteza e força na quebra das ondas. não consegui ficar muito tempo, mas o suficiente para não criar aquela sensação de que preciso de qualquer modo sair do lugar. a saturação que aconteceu no restaurante no leblon, no café e na livraria. eram lugares de passagem, mas que na minha dúvida para onde ir, insistiram mais na sua função inicial.

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