a tarde corria e junto com os salgados, hotdogs, pipoca, salada de macarrão. eu enchia cada vez mais meu copo de frisante, enquanto ia para lá e para cá, servindo para os pais e as crianças. uma das discussões ao fundo começou a ficar mais inflamada sobre a variável Bolsonaro. era o pai da melhor amiga da S. e acho que isso não era um bom começo de convivência com as famílias. de todo modo, o pai foi embora, com a desculpa de que o filho estava doente, o que foi desmentido com um não sei porque meu pai fala para falar que eu to doente, eu to bem.
de volta a cozinha, A.P me contou sobre o pai dela e como ela era filha de um estupro. a família era de Minas, bem humilde e a mãe veio para São Paulo para trabalhar como doméstica. o pai reapareceu quando A.P tinha 11 anos e lembra dele arrancando as unhas da mãe com alicate. (não quis aprofundar mais, isso sempre me toca e me faz ficar muito mal). a família de Minas era da cidade da manteiga Aviação. A.P conta que a indústria começou com uma portinha e que as tias sempre pegavam as embalagem que sobravam e a empresa jogava no lixo. com o crescimento da empresa, o que era antes descartado começou a ser cobrado e hoje vale R$ 8 centavos cada caixa.
final da tarde e A.P já ia embora quando dei um abraço nela e desejei que o aniversário de 40 anos, já próximo, fosse comemorado com muita alegria. desejei que ela fizesse a viagem que tanto queria, para algum lugar tranquilo, com o marido e com o filho. a noite, antes de dormir, com o coração pesado pensei que seria bom trazer em algum momento da vida da escrita essas histórias que carrego pelo contato ou convivência. lendo Bolaño e o capítulo Anne's life, acho que tive algumas ideias do que isso pode ser no futuro.
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