quarta-feira, 18 de maio de 2011

Banho espiral

No hemisfério meridional de nosso planeta
existe uma espécie de ave migratória mais ou menos ordinária
que se propaga tão rapidamente
que apenas um artifício da natureza
nos protege do mais horroroso pesadelo.
Todo ano elas escurecem o céu sobre o oeste da Africa
onde se reúnem para sua viagem
sobre o oceano atlântico.
Apenas um décimo delas chega na América do Sul,
noventa por cento sucumbe, esgotadas
no meio do mar
onde os cientistas acreditam
que milhões de anos atrás
a grande massa de terra se dividiu
em dois continentes separados
Os pássaros começam a circular freneticamente
buscando ali seu pouso, onde
ele já não existe mais
seu instinto mantendo-se o mesmo por milhões de anos
guiando-os para sua morte por exaustão
Apenas os mais insensíveis chegam às costas austrais.


Rebecca Horn, 1979.

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