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durou um segundo, virar o rosto e acompanhar o homem de óculos que saía do bar correndo com a arma na mão. não parecia pesada, lembrei das armas de brinquedo, mas essa era só preta. foi a corrida em direção à rua e em seguida o disparo que fez os sentidos chamaram atenção para que alguma coisa perigosa estava em trânsito. ele parou um pouco antes de atirar em diagonal, em direção à Drogaria São Paulo. não houve gritos. peguei o braço de D. e entramos no bar que estava ao nosso lado, de esquina, nos escondendo atrás da parede, perto do refrigerador. atrás da zona do perigo. impotentes, com medo.
eu não vi a moto que saiu em disparada e que tinha outra pessoa que tentou roubar a moto do homem de óculos armado. D. viu e viu ainda quando o homem de óculos colocou a arma na cintura. eu só vi o balconista dizer que tentaram roubar a moto do homem de óculos e esse homem passar e entrar em direção a cozinha do bar, de cabeça baixa, irritado.
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isso foi ontem, mas até agora está difícil recuperar a rotina da escrita, da preocupação por outros assuntos. parece que aquele tiro desencadeou o que eu havia buscado ignorar mais intimamente nos últimos tempos. não sei porquê, quando acordei, vi o vídeo da advogada com ataques homofóbicos, racistas em uma padaria aqui em São Paulo. por que eu vi eu não sei, mas parece que tudo está interligado em suas formas de violência.
aquele tiro, que por sorte não acertou ninguém fisicamente, me atingiu. uma dor silenciosa que vem sido acompanhada, e compartilhada, desde o início do mandato presidencial de 2019. a oficialização da banalização da vida, do desrespeito, de uma lei baseada no absurdo. e teve esse tiro, e o aprofundamento mais um pouco na carne do espírito vendo o vídeo da mulher que alega problemas psicológicos. pouco a pouco eles eles querem nos destruir.
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